O porta-voz e coordenador da Associação de Defesa dos Comerciantes da Região de Gabú (ADCRG), Amadi Embaló, denunciou que 60 por cento das atividades comerciais na região estão sob domínio de comerciantes estrangeiros, sobretudo os da Guiné-Conacri. Segundo Amadi Embaló, esta situação representa“uma ameaça aos comerciantes locais”.
Em entrevista ao jornal O Democrata para falar da situação do comércio no mercado celeiro da Guiné-Bissau em atividades comerciais, o porta-voz da ADCRG alertou que entregar 60% das atividades de um setor “tão vital para a economia do país” a estrangeiros é hipotecar o futuro de milhares de guineenses, porque quem tem o monopólio do mercado condiciona os mais fracos”.
“Essa preocupação e os riscos foram comunicados às autoridades, mas continuam inativas. É urgente definir planos, elaborar ideias concretas e projetos para que os comerciantes nacionais comecem a ter confiança para trabalhar. Infelizmente, as oportunidades para os cidadãos nacionais não existem”, afirmou, acrescentando que o governo deve abrir espaços, criar oportunidades para que nacionais e estrangeiros possam concorrer em pé de igualdade.
Para o porta-voz da ADCRG, apesar da subida galopante dos preços dos produtos da primeira necessidade no mercado nacional, na cidade de Gabú os comerciantes conseguiram dialogar com os consumidores, sensibilizá-los dos motivos que estiveram na origem da subida dos preços dos produtos da primeira necessidade.
“A Guiné-Bissau não é um país produtor e muitas vezes, quem dita as regras são as conjunturas do mercado internacional. Outro mal é que o governo não subvenciona os setores chave do desenvolvimento, tal como acontece nos países vizinhos, para evitar a especulação de preços. O facto é que a falta de informação leva que os consumidores encarrem os comerciantes como os maiores culpados”.
Segundo Amadi Embaló, no período da pandemia do novo coronavírus, os comerciantes da região de Gabú sofreram grandes prejuízos e um deles teve um prejuízo de mais de trinta milhões de francos CFA, de que não conseguiu recuperar por falta de apoios.

“O mercado estava fechado por decreto do governo e o volume de negócios era quase inexistente. Era difícil não cair na situação de perda de mercadorias devido aos prazos de validade”, lamentou, para de seguida afirmar que muitos comerciantes abandonaram o ramo e alguns não conseguiram recuperar a cem por cento dos prejuízos, por falta de política adequada para o setor.
“Se houvesse uma política, não estaríamos a falar dessas perdas, porque o Estado teria a coragem de não só instituir uma condição de isenção de taxas aos comerciantes que sofreram prejuízos, como também subvencionar os que, por uma ou outra razão, tiveram prejuízos que fossem do conhecimento das autoridades”, afirmou.
MÁ POLÍTICA DO GOVERNO E O AUMENTO DAS TAXAS BLOQUEIAM COMERCIANTES DE GABÚ
O porta-voz e coordenador da Associação de Defesa dos Comerciantes da Região de Gabu (ADCRG) disse que há quatro semanas, antes da produção deste artigo, a organização que dirige reuniu-se com a direção regional das finanças, contribuições e impostos da região de Gabú, na qual essas entidades anunciaram que há um aumento de 7 por cento das taxas das cobranças feitas de quatro em quatro meses e semestrais, no valor de três mil e quinhentos francos CFA e mais dez mil francos FCA, totalizando treze mil e quinhentos francos CFA.
“Mas o que a associação constatou no terreno é gritante. Os recibos que os nossos associados nos facultaram, mostraram um aumento gritante. Por exemplo, quem pagava quinze mil ou vinte mil francos CFA viu um aumento de quinze, vinte e vinte e cinco mil francos CFA. É extremamente exagerado. É verdade que tem havido, nos últimos tempos, dificuldades que deixaram mais frágeis os comerciantes da região de Gabú, por isso não se justifica essa atitude. O comércio exige massa, mas a população não tem poder de compra e os comerciantes estão a fugir do mercado por políticas rígidas das autoridades”, criticou.
Amadi Embaló revelou que a massa que dinamizava as atividades comerciais na região dispersou-se devido às más políticas das autoridades e decidiu escolher a capital Bissau para exercer as suas atividades.
“A fuga dos comerciantes tem a ver justamente com um despacho do governo. Anteriormente, se um comerciante despachasse em Bissau podia escoar os seus produtos para Bissau e outros pontos do país sem muitas burocracias. Havia comerciantes que traziam vinte ou trinta camiões, porque não havia muita burocracia e entraves, mas nos últimos tempos não tem sido assim. Os comerciantes têm trabalhado sob pressão e incertezas. Despachamos em Gabú e em Mafanco, mas confrontamo-nos com os conflitos de competência entre a Polícia de Trânsito, a Guarda Nacional e a Brigada da Ação Fiscal das Alfândegas, tudo isso é mau para economia do país e para os negócios”, sublinhou.
Segundo o comerciante, essa disputa desnecessária e as cobranças ilícitas têm contribuído na fuga de comerciantes que abasteciam o mercado, porque estavam fartos e não podiam aguentar despachar em Gabu, Mafanco, Bafatá, Bantandjan, Jugudul e Bissau e porque também todo o investimento não tinha nenhum retorno e, consequentemente, mudaram de rota.
Afirmou que na sequência dessa disputa entre as autoridades e da falta de definição clara das competências das diferentes corporações policiais que atuam nas estradas do país, os comerciantes estrangeiros que operavam em Gabu retornaram à Guiné-Conacri, precisamente para Cundara e BoKé, deixando praticamente a cidade de Gabu, o bastião Bissau e de outros centros comerciais, desertos e vulneráveis.
O comerciante apontou a migração como um dos constrangimentos que tem criado quedas no mercado regional, porque “não é segredo para ninguém que a nossa população local é nómada e quando o fenómeno ganha proporções é óbvio que a troca comercial não vai ter dinâmica”, indicou para de seguida lembrar que as pessoas saiam do sul ( Catió e Cacine), do norte (Farim e Bula ) e de Bissau à procura de alguns produtos essenciais, porque Gabú era um dos centros comerciais do país que comercializava produtos mais barato e criava rendimento, mas hoje em dia a queda é drástica.
“Esta preocupação foi sempre objeto de debate com o Presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro do comércio e quase com todas as entidades nacionais, porque Gabú era os pulmões do comércio na Guiné-Bissau e o Estado sempre tem preservado esse potencial de Gabú, porque estratégica e geograficamente está bem localizada. Faz fronteiras com vários países da sub-região, nomeadamente a Guiné-Conacri, Senegal e o Mali. Seria bom se as autoridades pudessem trabalhar para devolver à cidade de Gabu esse potencial enorme que tinha. Tudo era barato, mas hoje em dia, quase tudo está mais caro na vida pública de Gabu”.
Frisou que a potencialidade de Gabú está centrada na agricultura e no comércio, mas “o Governo não está interessado em desenvolver esses setores, por estar preocupado em fazer mais receitas que vêm das nossas contribuições”.
Revelou que há meses em que as alfândegas de Gabú arrecadam receitas de duzentos, duzentos e cinquenta e cinco e trezentos milhões de francos CFA só nas cobranças de taxas e despachos dos produtos que os comerciantes de Gabú importam dos países vizinhos, embora esses valores variem de mês a mês.
“As alfândegas chegam a ter seis camiões no processo de despacho num dia, porque ninguém traz produtos sem despachar. O nosso engajamento é trabalhar para que haja uma aproximação entre os comerciantes e os consumidores para criar receitas, porque não faz sentido exigir do Estado a construção de infraestruturas, o investimento nos setores da saúde e da educação, se não contribuímos. No nosso caso, Gabú, tudo acontece ao contrário. Contribuímos, mas não há nenhuma melhoria em nenhum setor, porque tudo é canalizado para Bissau e Gabú fica penalizada”.
Amadi Embaló defendeu que seria necessário, embora não haja autarquias locais que definiam as políticas públicas locais, que uma parte dessa contribuição fosse aplicada em ações e nos projetos de desenvolvimento da região.
Anunciou que o grande desafio da ADCRG é trabalhar cada vez mais na sensibilização dos comerciantes, criação de condições de aproximação e trabalho em sinergia com a delegacia regional de comércio em vários domínios, como requisitos mínimos que uma pessoa que queira entrar para esse ramo deve preencher, para que Gabú possa ter uma classe à altura dos desafios atuais e conjunturais.
“É o que temos feito. Todos estão sensibilizados, têm tudo em ordem, a estocagem organizada, os produtos colocados nos balcões em função do prazo de validade, etc. Temos trabalhado também com os nossos comerciantes na vertente moral, sobretudo a não venderem produtos fora de prazo e evitar de infrações, porque são dois males que podem arruinar o negócio de um comerciante. Quando a população já não acredita num comerciante, a tendência é ele desaparecer do mercado”, precisou.
AMI EMBALÓ NEGA QUE ESTEJAM A COMERCIALIZAR PRODUTOS COM PRAZOS DE VALIDADE EXPIRADOS
Questionado se a organização age contra os associados tratando -se dos prazos de validade dos produtos, negou que tenham estado a comercializar, de forma clandestina, produtos fora de prazo, contudo disse que, a haver indícios, serão tomadas diligências para apurar a veracidade dos fatos, porque “recomendamos os nossos associados a não venderem produtos com validade a expirar num curto espaço de tempo.
Podem sim fazê-lo com produtos que tenham prazos de validade de um ou dois meses, informando aos clientes dos prazos para que possam consumi-los a tempo. Repito, havendo uma situação em que um comerciante esteja a vender produtos com prazos de validade expirados, terá que fazê-lo mediante as orientações da organização, ou seja, não estocá-los nem revendê-los a terceiros”.
Uma das exigências do ministério do Comércio é a formalização dos negócios e ter a contabilidade em dia, alegando que a maior parte dos comerciantes da região faz essa atividade de forma tradicional.
Em reação, Amadi Embaló disse é natural que o comércio local seja tradicional porque os pioneiros não tinham acesso à escola, mas hoje em dia o mercado tem quadros jovens que apenas precisam de ações de capacitação para revolucionar o setor e tirá-lo do formato tradicional para formal e isso pode travar a situação de perdas económicas.
“Há três anos que a organização que dirijo vem solicitando às autoridades um espaço para construir a sua sede, mas não temos recebido respostas satisfatórias. A contabilidade é uma prioridade. Temos quadros à altura e é da responsabilidade das autoridades regionais e centrais implementar a contabilidade. Temos experiências de países vizinhos e vimos como as coisas funcionam nestes países, porque é uma forma de empregar outros cidadãos, porque tendo a contabilidade montada será menos peso para o governo, mas as autoridades querem ter o monopólio de tudo”, criticou.
“O Estado não pode empregar todos os cidadãos. O setor privado é parceiro estratégico do Estado. Como se pode montar uma contabilidade pública num país onde a energia é ouro negro e as condições dos armazéns são precárias, temos que ter em consideração volumes de negócio, porque as despesas são enormes. São fatores que devem ser calculados antes de se montar uma contabilidade”, referiu.
O ativista criticou a falta de atenção das autoridades às mulheres que atuam no setor informal porque, segundo disse, “pequenos e grandes comerciantes contribuem todos, cada um à sua medida”.
Para Amadi Embaló, é inaceitável que as mulheres continuem a percorrer diariamente 200 quilómetros à procura de gelo em Bissau, sem infraestruturas rodoviárias em condições. Porque é que o governo não pode criar mecanismos para instalar uma fábrica de gelo?
“Temos uma fábrica DUMA e um fornecedor de luz elétrica, mas não são suficientes para cobrir as necessidades da população de Gabú e tabancas arredores. Gabú registou, há anos, um acidente que envolveu mulheres “bideiras” com perdas de vidas humanas, algo que poderia ter sido evitado, se condições fossem criadas para que desenvolvessem as suas atividades localmente”, disse.
Temos ainda mulheres que continuam a deslocar-se ao Senegal procurar pimenta, cebola e outros produtos sob enormes riscos, portanto as autoridades têm que começar a pensar nas políticas públicas, criação de condições para que as mulheres possam começar a fazer o seu trabalho localmente sem ter de viajar muitos quilómetros, enfrentando riscos.
“É um risco viajar até Djaubé com crianças às costas para comprar produtos. Para além de riscos que correm nas fronteiras vulneráveis, as mulheres sofrem muitos prejuízos com a burocracia de despachos que as autoridades aduaneiras implementaram. É urgente criar iniciativas internas que vão congregar as mulheres para que possam desenvolver as suas atividades e ter um campo de negócio interno”, defendeu.
As mulheres da região de Gabú não têm acesso ao crédito bancário, porque os critérios que os bancos comerciais adotam acabam por afastá-las de todas as possibilidades, porque “gastam muito dinheiro só no processo”, defendendo que seria bom que os bancos levassem em consideração que essas mulheres não são pessoas com grande capital e que o volume do seu negócio não lhes permite arrecadar muito dinheiro, além de prejuízos que sofrem.
“Por exemplo, uma mulher que precisa de um crédito bancário de dois ou três milhões de francos CFA, mas no processo de preenchimento das papeladas gastam trezentos ou quatrocentos mil francos CFA vai ter coragem de avançar?”, questionou, acrescentando que o setor bancário deve funcionar como um parceiro dos comerciantes e das mulheres envolvidas em pequenos e grandes negócios ou em atividades económicas, sublinhando que é fundamental apostar em pequenos comerciantes, porque “nem sempre os grandes são confiáveis, aliás, várias vezes os bancos foram vítimas desses grandes comerciantes “.
“Outro fator de constrangimento que as mulheres e comerciantes têm aos créditos bancários são os políticos, porque a maioria são comerciantes. Criam dificuldades junto dos bancos para não permitir que os outros tenham acesso a créditos porque têm medo da concorrência leal e como consequência os menores não conseguem crescer. Todas essas preocupações foram transmitidas às autoridades nacionais, inclusive ao ministro do comércio e ao Presidente da República”, indicou.
Por: Filomeno Sambú

















Parabéns meu querido irmão
A entrada de muitos estrangeiros é sinal da internacionalização do comércio informal em África