Governador: “AGRICULTORES DE QUÍNARA ESTÃO A PASSAR FOME POR CAUSA DA MÁ CAMPANHA DE COMERCIALIZAÇÃO DE CASTANHA”  

O Governador da região de Quínara, sul da Guiné-Bissau, Mamadu Sanhá, revelou que os agricultores estão a passar muita fome neste momento, devido à quebra que se regista no processo de comercialização da castanha de castanha de cajú.

Para inverter a situação, Mamadu Sanhá defendeu que é urgente a intervenção do governo central, no sentido de encontrar mecanismos necessários e que permitam viabilizar a compra do produto considerado base da economia guineense. 

“A maioria da população guineense, em particular os agricultores desta zona, depende essencialmente da castanha de cajú, de maneira que essa situação está na base dessa crise, melhor, da fome, porque as populações dependem desse produto para comprar seus alimentos. Não posso fingir nem fugir da verdade, porque muitas pessoas abordaram-me várias vezes sobre a situação da campanha da castanha de cajú e a crise que estão a viver. Apelou ao governo central para resolver o problema da comercialização da castanha de cajú e, consequentemente, tirar a população da situação da fome que está a enfrentar, caso contrário não vale a pena estarmos no poder”, assegurou, ressalvando que a população deve compreender que a crise que se regista na Guiné-Bissau está relacionada com a conjuntura mundial, provocada pelos conflitos no leste europeu entre a Rússia e Ucrânia. 

Sanhá fez essas revelações na entrevista exclusiva ao semanário O Democrata para falar da situação social e económica da sua região, como também das dificuldades enfrentadas pelos produtores da castanha de cajú devido à má comercialização deste produto, considerado o “petróleo” da Guiné-Bissau ou a base da economia nacional.   

ADMINISTRAÇÃO REGIONAL TRABALHA NAS ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR O SOFRIMENTO DAS POPULAÇÕES  

O governador informou que a sua região dispõe apenas de uma viatura para circular em todos os setores administrativos, acrescentando que “isso é uma situação difícil e triste, por isso o governo central deve criar as condições para que as regiões possam trabalhar para o desenvolvimento do país”.

Explicou que assumiu as funções de governador numa situação “bastante turbulenta” na região nos diferentes setores, particularmente a nível social, mas graças ao trabalho desenvolvido pela nova equipa, a situação normalizou e que agora se sente confortável e orgulhoso pelo trabalho feito até aqui, pois através dessa dinâmica conseguiu tranquilizar a população em termos de conflitos derivados da posse de terra e segurança.

Sobre esses conflitos, disse que a sua região não está isenta dessa problemática que se regista um pouco por todo o país, mas que o governo regional conseguiu reduzí-los através de um diálogo sério com as comunidades locais.  

Questionado sobre a situação da má comercialização da castanha de cajú na região, Mamadu Sanhá explicou que o governo regional está a acompanhar a evolução da situação, apesar de não ter recebido nenhuma informação oficial dos ministérios de tutela, neste caso, comércio e finanças. Informou ainda que realiza visitas regulares às tabancas para constatar “in loco” a situação real que as populações vivem, sobretudo a questão da troca da castanha de cajú por outros produtos alimentares.  

“Não há uma informação correta sobre a situação. Por exemplo, os agricultores informam da sua maneira que os compradores não estão a respeitar o preço estipulado pelo governo, bem como rejeitam comprá-la em quantidade, mesmo a preços baixos. Os comerciantes informam, por sua vez, que as taxas aplicadas pelo governo não lhes permitem comprar a castanha a 375 francos CFA, de maneira que não podem continuar a comprar. Neste momento, estamos a fazer um trabalho para conseguir informações oficiais junto do governo central para que possamos desenhar estratégias que possam minimizar o sofrimento dos agricultores, porque desde que iniciou a campanha de comercialização da castanha de cajú não recebemos nenhuma orientação e isso acabou por criar especulação no seio dos atores que trabalham nesse setor”, sublinhou.

“REGIÃO DE QUÍNARA TEM APENAS UM MÉDICO QUE NEM SEMPRE ESTÁ DISPONÍVEL”

Relativamente à situação de segurança, Sanhá assegurou que a região de Quínara está bastante tranquila devido à colaboração existente entre as instituições do Estado que operam naquela zona, nomeadamente o gabinete de planificação e segurança que reúne frequentemente com oobjetivo de reduzir a delinquência na região. Contudo, reconheceu que “é difícil acabar com esse flagelo de vez, razão pela qual alguns atos pontuais ainda acontecem na zona”.

A nível da saúde, disse que a região tem apenas um médico que também exerce a função de delegado regional de saúde, onde ocupa grande parte do seu tempo, por isso “consideramos que a região não tem médico disponível para se ocupar dos pacientes que procuram os serviços do hospital local”. 

Realçou os apoios recebidos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo da População das Nações Unidas (FNUAP), que criaram as condições necessárias para colocar técnicos de saúde naquele estabelecimento hospitalar que, segundo a sua explicação, trabalharam bastante para que a região reduza o índice da mortalidade materno infantil e não figurar na primeira posição dos indicadores, assegurando por isso que ” a taxa de mortalidade infantil baixou bastante nos últimos tempos”.

“A região tem poucos profissionais de saúde, mas é importante realçar os trabalhos feitos por aqueles que estão aqui. Neste momento, recuperamos a nossa maternidade e o bloco operatório que há vários anos não funcionavam, por isso é bom elogiar o trabalho feito nessa área de saúde e esperamos poder melhorar mais outras áreas para o bem-estar da população”, disse, acrescentando que “a região precisa de técnicos de saúde para os centros de saúde setoriais, para fazer face aos desafios e cobrir toda a região”.  

Questionado sobre o plano regional do desenvolvimento da região, respondeu que a equipa que lidera está a implementar o plano regional do desenvolvimento, começando pela visita a todos setores que fazem parte da região para saber quais são as zonas com maiores potencialidades, nomeadamente bolanhas, praias, gastronomia, cultura, ensino e porto de águas profundas, para depois publicitar essas zonas para atrair investimentos.  

“Queremos que as promessas feitas sobre a construção do porto de Buba seja uma realidade, por isso queremos incentivar os governantes, principalmente o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, para tomar engajamento sério para a implementação do projeto do porto de águas profundas do Rio Grande Buba que permitirá não só alavancar o desenvolvimento económico para a província sul, mas sim para toda a Guiné-Bissau”, vincou.

Em relação à questão da energia elétrica, disse que a região nunca teve luz elétrica, porque a central elétrica construída na cidade de Buba há vários anos nunca funcionou e que está numa situação que não consegue explicar. Adiantou que a população local está mais esperançada no projeto das barragens da OMVG, que provavelmente deverá entrar em funcionamento no mês de dezembro do ano em curso e que a sua região será a primeira a beneficiar da corrente elétrica da OMVG.

Por: Aguinaldo Ampa

Author: O DEMOCRATA

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