[Campanha eleitoral] A presidente do Movimento Social Democrático (MSD), Joana Cobde Nhanca, é a única mulher líder partidária a concorrer ao cargo de primeira-ministra nas legislativas de domingo, 04 de junho, entre 21 líderes partidários.
A irmã do falecido Presidente Koumba Yala decidiu dar mais dinâmica à política guineense após o falecimento do irmão.
Joana chegou a terceira vice-Presidente da Assembleia do Povo Unido e mais tarde, depois de uma rotura com o líder de APU-PDGB, Nuno Gomes Nabiam, criou o MSD para dar mais dignidade às mulheres.
Joana Cobde Nhanca disse ter concorrido às eleições legislativas de 4 de junho do ano em curso, para desvendar e colocar na praça pública os “corruptos, traficantes de droga e mentirosos que enganaram e dilapidaram, por vários anos, os bens do povo e destruíram o país”.
Em entrevista telefónica a partir do setor de Nhacra, região de Oio, no norte da Guiné-Bissau, Joana Cobde Nhancadisse que, por ser uma formação política muito nova, com apenas sete meses, vai concorrer em quatro círculos eleitorais, designadamente: 5 (Bissorã), 8 (Mansoa/Nhacra), 13 (Bambadinca/Xitole) e 19 (Bigene/Bula).
PPM: “HOMENS POLÍTICOS NÃO ESTÃO PREPARADOS PARA PARTILHAR O PODER COM AS MULHERES”
Para a vice-presidente da Plataforma Política das Mulheres, Aissatu Camara Injai, os homens políticos guineenses não estão preparados para partilhar o poder com as mulheres, sublinhando que as perspetivas da representatividade feminina na próxima legislatura não é encorajadora, devido às posições ocupadas pelas mulheres nas listas partidárias.
Aissatu, que falava ao semanário O Democrata, disse que é notória nas listas dos candidatos ao cargo de deputado a fraca presença das mulheres e que as que estão nas listas as suas posições estão, na sua maioria, desvantajosas.
Afirmou que há mulheres na política que deram o rosto e afirmaram-se, contudo apontou a educação familiar como um dos fatores que leva muitas mulheres a não ocuparem posições de decisão, porque ” as famílias têm orientado a mulher a ser doméstica enquanto o homem é orientado para liderar, o que acaba refletindo-se negativamente na vida política e social”.
“Havia um senso que dizia que as mulheres não encaravam a política seriamente e se for essa a logica, concluiremos que talvez seja verdade, mas nos momentos atuais, no nosso dia a dia, temos visto mulheres a participarem ativamente na política”, sustentou.
“Há partidos com três ou mais mulheres na cabeça de lista, há partidos com o grosso número de mulheres na lista, mas as suas posições são desfavoráveis, porque, às vezes, são colocadas na segunda ou terceira posição e na zona onde o partido não tem muita aceitação, a pretexto de que têm mulheres nas listas”, disse.
Para Aissatu, o país perde com o afastamento das mulheres da esfera de decisão, principalmente na Assembleia Nacional Popular. Lembrou que a sua organização e mais outras exigiram 40% na lei de quota, mas foi atendida apenas 36%, e esta percentagem não está a ser cumprida pelos partidos políticos.
Disse que as organizações não estão satisfeitas com a nomenclatura “lei de paridade”, mas aceitaram na altura porque os interesses das mulheres ultrapassam qualquer nomenclatura, mas sim o conteúdo.
Segundo a ativista, o cumprimento integral da lei da quota permitiria a alternância na liderança das listas dos deputados, que desde cedo foi vedada às mulheres. Acrescentou que na altura da aprovação da lei, se a nomenclatura lei de quota tivesse sido respeitada, o Parlamento teria tido um número significativo de deputadas e teria conseguido balizar a alternância nas listas de concorrentes a deputado, bem como ao executivo.
Lembrou que o Supremo Tribunal de Justiça, nas legislativas de 2018, exigiu aos partidos que respeitassem a lei, facto que não aconteceu este ano, porque “não houve nenhum pronunciamento deste órgão e porque também a lei não funcionou em alguns partidos que não atingiram a percentagem de 36%.
“Não exigimos que sejam dadas posições às mulheres sem mérito, exigimos justiça porque há mulheres muito mais preparadas do que alguns homens, e elas poderiam poderiam liderar listas ou fazer parte do governo e até concorrer a presidente da República. Temos muitas mulheres capazes e bem instruídas, e em todos os partidos políticos podemos ver essas mulheres, e porque não ocupam lugares de decisão?”, questionou.
Para Aissatu Injai, a coragem e a determinação da Joana Cobde Nhanca, “é muito inspiradora” por ser a única mulher a liderar um partido político neste embate eleitoral de 20 partidos e duas coligações porque a Guiné-Bissau enfrenta um contexto político complexo e machista que, às vezes, acaba por desencorajar as candidaturas femininas.
Afirmou que sua organização não registou grandes incidentes de ofensas verbais ou de violência entre os candidatos durante a campanha eleitoral que termina hoje. Lembrou que 19 partidos assinaram o compromisso de que respeitariam o código de conduta eleitoral.
“Espero que os cidadãos cumpram o dever cívico e que tudo corra bem, sem incidentes, que haja uma festa da democracia e, consequentemente, uma governação estável com representatividade positiva das mulheres no Parlamento e na governação”, disse.
Por: Epifânia Mendonça
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