A Guiné-Bissau corre sérios riscos políticos que, eventualmente, poderão resultar em hemorragia constitucional, capazes de precipitar a queda do governo, depois de o atual governo completar 12 meses, e consequentemente a convocação de eleições simultâneas em finais de 2024. Acusar-me-ão de estar contra os sinais do desenvolvimento que estão a ser dados pelo atual governo. Quem não se contentaria com o progresso e o bem-estar social?! Responde quem lê. Esta legislatura deve terminar sem sobressaltos, ou seja, sem golpes de Estado nem golpes institucionais. A vontade popular do povo deve ser respeitada.
Nas últimas semanas, os guineenses têm acompanhado declarações que visam pôr em causa a paz e a estabilidade política, governativa e social na Guiné-Bissau. Estes políticos e partidos políticos que temos já nos provaram que só se interessam em satisfazer os seus egos, para eles que o povo, o dono do poder, se foda.
Embora tenha estudado a introdução ao Direito, quando cursava Contabilidade, prefiro não fazer jus a contas feitas para a “marcação” antecipada das eleições presidenciais para 24 de novembro de 2025. Mas prefiro fazer uma leitura entrelinhas das recentes trocas de mimos entre os Presidentes dos dois órgãos da soberania, digamos dois potenciais candidatos às próximas eleições presidenciais na Guiné-Bissau e de algumas formações políticas.
Não há, na minha opinião, nenhuma grave crise institucional, há sim uma precipitação da agenda presidencial, com o intuito de interromper a vontade soberana do povo guineense. Atrevo-me a dizer que os responsáveis dos órgãos da soberania são obrigados a conviverem na base do respeito mútuo e da separação dos poderes (revisitar Montesquieu), evitando assim que o poder se concentre nas mãos de uma única pessoa, ou seja, “quero, posso e mando”.
Está instalada uma crise política artificial, porque os aliados desfizeram dos acordos que sustentavam o então poder. A tática agora é a instrumentalização das sensibilidades políticas dentro dos partidos para criar roturas internas, com o intuito de pôr em causa a vontade popular expressa nas urnas no dia 4 de junho de 2023.
Em mim, sinto que há um plano em marcha para a realização das eleições simultâneas em novembro de 2024, 4 meses do fim do mandato do atual chefe de Estado. Algumas pessoas cairão inconscientemente nesta cilada, aplaudindo, se acontecer a decisão presidencial, pensando que é uma forma de se desfazer do atual Presidente. Aceitar que se realize as eleições legislativas em 2024 é desrespeitar mais uma vez a vontade soberana do povo em detrimento dos interesses pessoais e mesquinhos de um determinado grupo.
Ainda é tempo de nos encontrarmos e pensarmos no cumprimento da agenda nacional, quer dizer melhorar as condições de vida das nossas populações, acabar com fome, baixar os preços dos produtos da primeira necessidade nos mercados nacionais, continuar o plano de construção de estradas iniciado pelo então governo, criar as condições para que haja produtividade na administração pública e consequentemente o aumento salarial.
É preciso que os titulares dos órgãos da soberania enterrem “os machados” e que evitem misturar agendas presidenciais com agendas nacionais. Outrossim, que os partidos políticos façam uma oposição construtiva dentro do quadro legal, porque o povo está cansado das constantes crises artificiais inventadas e sustentadas por gente que não quer ver o país avançar para o desenvolvimento.
É necessário um esforço conjunto de todos os guineenses para que, desta vez, o atual governo cumpra 4 anos, tal como está escrito na Constituição, e que também o atual Presidente cumpra os 5 anos de mandato, para que possamos estancar a hemorragia de ciclos de instabilidades político- governativas.
Por: Tiago Seide
Professor e Jornalista
















