Após anos de reivindicação: EX-COMBATENTES PORTUGUESES NA GUINÉ SENTEM-SE ENGANADOS PELA EMBAIXADA E PELO GOVERNO DE PORTUGAL

O presidente da Associação dos Ex-combatentes Deficientes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau (ADECOFARP-GB), Amadu Djau, disse que os seus associados sentem-se abandonados e enganados pela Embaixada e pelas autoridades portuguesas, que acusou de não quererem pagar as suas pensões de sangue ou de serviço prestado a Portugal no período colonial. 

“Os antigos combatentes portugueses na Guiné estão a ser enganados e sentem-se traídos pela Embaixada de Portugal, que tem recusado conceder-lhes vistos. Temos o direito de receber os vistos, porque merecemos. Lembro que reunimo-nos com o Presidente Marcelo aquando da sua visita a Bissau. Depois da reunião instruiu o Embaixador, na nossa presença, a conceder anualmente 200 vistos a ex-combatentes portugueses na Guiné e aos seus filhos. Infelizmente, a embaixada não cumpriu e nem sequer chegou a conceder visto a uma única pessoa do nosso grupo”, revelou o responsável da associação, durante a entrevista (07.11.2023) ao semanário O Democrata, por telefone, para falar da Carta Informativa endereçada à ministra da Defesa Nacional de Portugal, Maria Helena Chaves Carreiras, através do ministério da defesa nacional da Guiné-Bissau.

“EMBAIXADA DE PORTUGAL CUSTOU SANGUE E SUOR DOS NOSSOS PAIS”

A missiva visa informar a governante portuguesa  da situação concreta e do estado em que se encontram os ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau, sobretudo no concernente à autorização de vistos aos ex-combatentes, filhos e familiares para tratamento médico; Criação de mecanismos de facilidade para o atendimento dos processos dos ex-combatentes junto da embaixada de Portugal, que culminaria com a abertura de um  Guiché e a questão do retorno da nacionalidade portuguesa aos ex-combatentes,  filhos e familiares.

Amadu Djau explicou que se reuniram com o ministro da defesa nacional da Guiné-Bissau, Nicolau dos Santos, e pediram-lhe para facilitar um encontro com a ministra da defesa nacional de Portugal, para que possam transmitir a situação dos veteranos de guerra. Acrescentou que entregaram ao ministro guineense da defesa uma carta informativa para fazê-la chegar a sua homóloga portuguesa, na qual está detalhada a situação dos ex-combatentes deficientes portugueses.   

Aproveitou a ocasião para enaltecer a iniciativa do Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, por este ter transmitido ao governo português a preocupação dos ex-combatentes, para encontrar uma solução que permita o pagamento das pensões aos ex-combatentes, através da Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau.

Questionado sobre o que estaria por trás da morosidade na concretização dos seus pedidos de atribuição de nacionalidade e de pagamento das pensões de sangue da parte do governo português, respondeu que “compreendemos que não existe uma boa relação entre a associação e a Embaixada de Portugal, que durante todo o tempo passou a enganar-nos”.

O responsável informou que só depois de várias negociações é que a embaixada abriu um guichê de atendimento especialmente para os ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau, “mas infelizmente nenhum elemento da associação recebeu um visto, apesar de entregarmos documentos exigidos para o efeito”.

“Temos o direito de receber vistos na embaixada, porque aquela embaixada, como digo sempre, custou sangue e suor dos nossos pais. Não há nenhuma razão que justifique a recusa de concessão de vistos aos ex-combatentes, mas entregam vistos a pessoas que nunca chegaram a prestar quaisquer serviços a Portugal “, criticou, acusando as autoridades portuguesas de discriminarem os ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau.

“É de conhecimento de toda gente que os antigos combatentes guineenses recebem as suas pensões de sangue. Pode ser insignificante, mas recebem. Os ex-combatentes portugueses na Guiné não recebem nenhum franco de pensão de sangue do governo português, desde 1974 até à data presente. Essas pessoas passam as suas vidas a mendigar e puxar o carrinho de mão para conseguir o pão de cada dia”, criticou e informou   que nem todos os ex-combatentes que conseguem chegar a Portugal recebem o pagamento de pensões de sangue.

“Fiz viagens a Portugal várias vezes. Sempre andei junto das instituições concernentes, Caixa Geral de Aposentações, Segurança Social, Loja de Cidadão e Arquivo Geral do Exército, são locais em que se pode obter informações sobre um antigo combatente português. As pessoas que prestaram serviço militar nas forças armadas portuguesas   e não foram atingidas por nenhuma bala ou não perderam nenhuma parte do seu corpo (vista, braço ou pé) não recebem nenhuma pensão de sangue. A única coisa que recebem é a pensão de velhice, pensão de invalidez no valor de 300 Euros (200 mil fcfa)” disse.  

Assegurou que para receber o subsídio ou pagamento de pensão do sangue é preciso que a pessoa tenha apanhado uma bala ou perder um dos membros do seu corpo.

“Se a pessoa apanhou apenas uma bala ligeiramente, não perdeu nenhum dos membros do seu corpo terá que passar por uma avaliação médica para provar as circunstâncias e como a bala atingiu-lhe. Depois disso, vem o relatório para descrever a sua real situação e apenas depois da avaliação do médico se saberá se vai ser admitido ou não para receber uma pensão de sangue, que se estima em cerca de seis mil euros mensais (mais de três milhões de francos CFA).  

 Por: Assana Sambú

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