Ministro de Agricultura: “CHINESES VÃO COMPRAR A CASTANHA EM 2024 E PEDEM UMA QUANTIDADE SUPERIOR A NOSSA PRODUÇÃO ANUAL”

O ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural, Mamadu Saliu Lamba, anunciou que o governo da China Popular decidiu que os seus empresários vão comprar a castanha de cajú e a amêndoa na campanha de 2024, tendo afirmado que os empresários chineses manifestaram o interesse de comprar uma quantidade muito superior, três a quatro vezes às duzentas mil toneladas produzidas anualmente pela Guiné-Bissau. 

O governante fez este anúncio na entrevista concedida ao Jornal O Democrata e a Radiodifusão Nacional, para falar da sua participação no 2º Fórum de Cooperação da Agricultura entre a China e a África, realizado de 13 a 16 de novembro do ano em curso, na cidade de Sanya, província de Hainan, República da China Popular. O evento organizado pelo ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China em colaboração com o governo popular da província de Hainan, decorreu sob o tema “Segurança Alimentar para a África”.

CHINA APOIA NA FORMAÇÃO DE TÉCNICOS E TAMBÉM PASSARÁ A MONTAR AS MÁQUINAS AGRÍCOLAS NO PAÍS

A segunda edição do Fórum sobre a Cooperação China-África no domínio da Agricultura, sob o tema “Segurança Alimentar para a África”, vem na sequência da primeira edição, que teve lugar em 2009, organizado pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais (MARA). Na edição deste ano, mais de 200 personalidades foram convidadas, entre elas figuram vários países, organizações de produtores e institutos de pesquisa agrária.

O evento contou com a presença de 35 ministros de agricultura de diferentes países africanos, bem como dos responsáveis das estruturas do Governo da China, das empresas do setor agroalimentar, institutos de pesquisa e de desenvolvimento.

Mamadu Saliu Lamba, explicou, na entrevista, que que muitos países já beneficiaram da tecnologia, maquinarias e dos conhecimentos dos técnicos chineses e que já estão a implementar na prática a palavra do Presidente chinês, Xi Jinping, que diz que “não oferece peixe, mas ensina a pescar”. Acrescentou que os países africanos beneficiários de apoios da China em matéria agrícola estão a tornar-se auto suficientes nos produtos da primeira necessidade, tendo afirmado que se a Guiné-Bissau quer, na verdade, sair da miséria deve apostar na agricultura.

Sobre os ganhos concretos do país no Fórum da China e África sobre a Agricultura, explicou que a Guiné-Bissau obteve direto e de imediato a aceitação do governo da República Popular da China em comprar a castanha de cajú e a amêndoa do país.

“Na campanha de cajú de 2024, teremos os empresários chineses no terreno para comprar a castanha e exportá-la para a China. A presença dos empresários chineses no terreno vai aumentar a competitividade no mercado, aliás, como se sabe quando a procura é maior do que a oferta, o vendedor é que dita a regra, o que não acontece já há vários anos”, assegurou.

Questionado sobre a prevenção da quantidade em toneladas que os empresários chineses quererão, disse: “Até parece engraçado, porque só uma empresa chinesa pode comprar toda a produção da Guiné-Bissau que está acima de duzentas mil toneladas”.

“Pelo que recebemos em termos de quantidade que cada uma das empresas com quem tivemos a oportunidade de ter algumas reuniões, manifestaram o interesse de comprar toneladas superiores três a quatro vezes à nossa produção. Dissemos aos chineses que não temos essa quantidade toda, mas cada empresa pode ir à Guiné-Bissau e tentar a sua sorte. O que nós queremos é que a castanha saia das mãos dos nossos produtores ao melhor preço”, referiu.  

Explicou ainda que durante a sua estada na China, manteve encontros no quadro bilateral com entidades governamentais chinesas, tendo frisado que a China vai assistir a Guiné-Bissau com maquinarias e com recursos humanos competentes que vai ensinar aos técnicos guineenses novos métodos de cultivo de diferentes produtos.

“A China não só vende maquinaria, mas também faz questão de mandar técnicos para acompanhar a utilização dessas máquinas. Como é sabido, um dos grandes problemas é a assistência ou a reposição de peças sobresselentes e a substituição das peças consumíveis. Os filtros e pneus estragam-se facilmente no ato da lavoura e complicam os trabalhos, depois a máquina fica parada muito tempo. Desta vez não vai acontecer no quadro desta nova parceria, porque os técnicos chineses vão passar a montar aqui as máquinas e ter no local as peças de substituição”, contou.

Assegurou que a China vai apoiar o país na formação de técnicos, dado que a Guiné está com déficit muito alto de recursos humanos. “Temos hoje no ministério técnicos com mais de 60 anos de idade e que foram contratados para vir trabalhar depois de entrarem em reforma”.

“Os jovens não estão a aderir à área de agronomia atualmente. Há fuga de cérebros em todas as áreas e particularmente no setor de agricultura. A China vem formar os nossos quadros aqui na Guiné-Bissau para servir melhor o país”, disse.

CABO-VERDE PRETENDE INVESTIR NA GUINÉ MAIS DE CEM BILHÕES DE FCFA PARA A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Questionado se o governo vai propor à República Popular da China uma iniciativa, no setor agrícola, para aumentar a produção local e reduzir a importação, o ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural assegurou que em quatro anos de governação da coligação “o país deixará de importar definitivamente o arroz para o seu consumo”, porque “vamos ter a capacidade de produzir muito e ter excedentes”.

“A China já decidiu apoiar o governo nessa sua vontade política para torná-la numa realidade nesta legislatura”, reforçou.

Em relação ao ano agrícola em curso, Mamadu Saliu Lamba lembrou que a Guiné-Bissau é o segundo país per capita com a maior reserva da água doce a nível mundial, que não precisa de tanta chuva para produzir, porque “o país pode produzir mais na época da seca, controlar a água através do sistema de irrigação, embora com poucos recursos”.

O ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural disse que num encontro que teve como o ministro da Agricultura de Cabo Verde foi-lhe revelado que este país recebeu uma ajuda de cerca de duzentos milhões de dólares, cerca de cento e trinta biliões de francos CFA´s, no âmbito do COMPAC, um projeto para África, incluindo a Guiné-Bissau.

 Segundo Mamadu Saliu Lamba, Cabo Verde já terá manifestado o interesse de o dinheiro ser canalizado para a Guiné-Bissau e em consequência disso o país terá que estabelecer uma parceria com o arquipélago, para que este país venha cultivar na Guiné e importar para Cabo Verde não só o arroz, bem como outros produtos que serão produzidos no quadro do CAMPAC.   

 “Quem sairá a ganhar será a Guiné-Bissau, porque toda a verba será investida no país. Temos grandes oportunidades, precisamos é apenas da estabilidade, segurança e a paz”, defendeu e disse que é um projeto a curto prazo que já tem zonas identificadas para a sua execução, que serão aprovadas pelos técnicos cabo-verdianos.

“Cabo Verde tem problemas de terras, mas não tem falta de recursos humanos. Estes técnicos deslocar-se-ão à Guiné e em conjunto com os quadros nacionais vão avaliar essas áreas e, consequentemente, aprová-las. A partir daí   assinar as parcerias. Já houve no passado uma parceria, mas devido às instabilidades conheceu algumas morosidades. Desta vez queremos retomar tudo e será a curto prazo”, indicou.   

Disse que os dados do ano agrícola findo que estão a chegar aos poucos são preocupantes, houve cheias e muitas bolanhas foram invadidas pela água salgada, o que não permitiu que os agricultores de algumas zonas críticas do país tivessem boas safras, mas “temos que trabalhar”.

 “Já pedimos alguns apoios para compensar as perdas e temos parceiros como BOAD, BAD e agora a República Popular da China a quem já pedimos arroz limpo para apoiar as populações carenciadas, caso contrário   poderemos ter uma situação alarmante de insuficiência alimentar”, reconheceu.

 O ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural destaca a China como uma parceira estratégica e privilegiada da Guiné-Bissau, que tem apoiado o país desde antes da independência até aos dias de hoje e que o país vai continuar a contar com este país asiático, sobretudo no domínio da agricultura, área onde tem neste momento técnicos chineses a formar quadros nacionais em Bafatá nas técnicas de plantação do arroz.

Por: Assana Sambú 

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