O diagnóstico sobre o estado anómico da nossa República não constitui mais segredo para ninguém. As causas do desmoronamento são igualmente do conhecimento geral. Ninguém ignora a degradação das instituições republicanas, a banalização dos princípios cardeais de uma República respeitável, a institucionalização da mentira como regra, a consagração da impunidade como método. A realidade do fiasco é palpável. Fazer reerguer a República é um dever patriótico de honrar a memória dos valentes combatentes, arquitectos da sua criação. Essa tarefa monumental deve recair sobre seguintes pilares:
(1) – O primeiro pilar é o resgate da ética
O desvio que teve/tem repercussão negativa na trajetória desta República foi/é desvio ético moral que provocou o colapso ideológico. Devolver à República a sua “manta sagrada”, é imperativo um retorno às raízes, à mata sagrada, ao reeditar do compromisso com os valores e princípios que nortearam a sua criação. Um retorno ao “sim” batismal é mais que uma exigência, é uma convocação a todos os patriotas para responderem ao desafio de realizar a infraestrutura ética moral, o primeiro alicerce da República.
(2)- Homenagem aos fundadores da República passará igualmente por um segundo pilar que é o reativar da fibra patriótica através da educação e formação. Educação na sua vertente transversal, incluindo a família, diferentes espaços de socialização comunitária, escolas, instituições públicas e privadas. No caminho do restabelecimento da República, o patriotismo é um degrau fulcral. Deus no Céu, a pátria na terra! Ninguém nasce patriota, ensina-se e apreende-se. A história, a cultura, a ciência, o amor ao próximo, amor à comunidade, a tolerância, os valores de Ubuntu, são ingredientes para resgatar o patriotismo na pátria de Amílcar Cabral.
(3)- Um terceiro pilar é a cidadania.. O permanente elástico entre direitos e deveres contextualizados é uma etapa fundamental na construção de cidadãs e cidadãos com
mentalidade de servir a comunidade, servir o próximo, de ser defensores e defensoras indefectíveis da liberdade, justiça, dignidade humana e das instituições republicanas.
Verdadeiros atores e verdadeiras actrices de mudança positiva nas comunidades que se traduzem na significativa melhoria de condições de vida de mulheres e homens. Cidadãos conscientes dos desafios internos, de África e do mundo.
(4)- O quarto pilar é a política. Os três primeiros pilares vão determinar a nova realidade política, a nova forma de pensar, ver, agir na política. Atividade política recuperará a sua autenticidade, a sua vocação original- a arte de administrar as vidas nas cidades!
(5)- O quinto pilar é o imperativo de um novo contrato social republicano. De um lado, entre cidadãos e a República e entre a equipa de administradores e a República. Nesta etapa, vai se operar uma mudança radical do paradigma: a República será efetivamente um património popular e não uma invenção das elites. Nos termos da nova República, a gratuidade da educação, saúde, justiça será uma garantia constitucional. A liberdade de pensamento, de opinião, de reunião, de manifestação, estarão no coração do novo contrato social republicano!
Bissau, 27 de setembro de 2024
Por: Armando Lona