O Alto-Comissário para a Peregrinação, Califa Soares Cassamá, afirmou que este ano os vistos para a peregrinação na Arábia Saudita serão emitidos a partir de Bissau. Além disso, os peregrinos guineenses que viajarão na quota da Guiné-Bissau, a partir da diáspora, também terão os seus vistos emitidos na capital guineense.
“Atualmente, graças à tecnologia, é possível emitir o visto eletrónico a partir de qualquer parte do mundo. Decidimos adquirir máquinas para emitir vistos em Bissau, tomando esta decisão para poupar tempo, reduzir custos e minimizar o sofrimento dos peregrinos. No ano passado, fui eu quem transportou os passaportes para Dakar e deparei-me com vistos a serem emitidos no quarto de uma pessoa, com uma impressão de má qualidade. Quando regressei, disse ao Chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, que no próximo ano queríamos emitir os vistos da peregrinação a partir de Bissau. Ele apoiou-nos e, por isso, decidimos comprar duas impressoras em Dubai”, explicou.
Em seguida, anunciou que, se tudo correr como previsto, “esta semana vamos iniciar a emissão de vistos a partir de Bissau, porque é assim que todos os países procedem”.
Quanto à rota de viagem, frequentemente alvo de queixas por parte dos peregrinos que muitas vezes dão a volta ao mundo para chegar à Arábia Saudita, o Alto-Comissário esclareceu que este ano, o Alto Comissariado está a trabalhar com uma nova dinâmica para facilitar a viagem e a peregrinação dos guineenses. Acrescentou que o objetivo é realizar um voo direto de Bissau para Medina, onde os peregrinos iniciarão a sua jornada, seguindo depois para a cidade de Meca de autocarro. No regresso, os peregrinos guineenses viajarão de Meca para Jidda de autocarro, onde embarcarão num voo direto para Bissau.
O Democrata (OD): Quais são os principais desafios logísticos enfrentados pela Guiné-Bissau para garantir que os peregrinos tenham uma viagem tranquila e segura, dentro do prazo previsto?
Califa Soares Cassamá (CSC): Temos um roteiro programado no qual está definido a rota de viagem de Bissau a cidade de Medina (Arábia Saudita) no dia 26 de maio e a viagem de regresso por via de Jidda e direto para Bissau, no dia 11 de junho. Tudo isso está programado de acordo com as informações que sempre revelamos.
Queremos garantir que estamos a fazer o máximo de esforço para que não haja grandes alterações nos planos definidos, mas como se sabe, a viagem de avião não se pode ter a garantia que vai acontecer de acordo com o programado, por causa de várias razões e por isso, se diz segundo as previsões.
Este ano são os próprios peregrinos que financiarão as suas viagens e como acontece em qualquer parte do mundo. Não estou satisfeito com o nível de adesão dos candidatos à peregrinação, embora os guineenses gostem de deixar tudo para última hora.
OD: Historicamente, a maioria dos fiéis muçulmanos consegue realizar a peregrinação através de bolsas, devido ao elevado custo da viagem, que ultrapassa os 4 milhões de XOF. Receia que o país possa ter dificuldades em atingir a quota fixada, que constitui o grande desafio do Alto-Comissariado?
CSC: O importante para nós é atingir a nossa quota e se possível ultrapassar o número de 751 de quota atribuído a Guiné-Bissau, pela primeira vez na história deste país. Estamos a trabalhar neste momento para pedir o aumento de quota para a Guiné-Bissau, dado que se registou o aumento do número da população guineense e, sobretudo, dos fiéis muçulmanos.
Feliz ou infelizmente, se for 30, 40 ou 50 pessoas que custearam as suas viagens para a peregrinação, são essas pessoas que vão fazer a peregrinação! Não vamos inventar nada, aliás, não podemos fazer omelete sem ovos. Esta prática de bolsas se regista somente na Guiné-Bissau e não se vê em nenhuma parte do mundo. A religião recomenda que a peregrinação é um dos pilares da religião, e é obrigatório se a pessoa tiver as condições para a fazer e se não tiver não será castigada por isso.
É verdade que quatro milhões de fcfa para um país como a Guiné-Bissau, onde se regista um custo de vida que é do nosso conhecimento (…), mas se a pessoa tiver a condição é possível fazer o esforço. Este ano no Senegal, o valor mínimo da peregrinação é de cinco milhões e quinhentos mil francos cfa, portanto não estou aqui para comparar a vida de um guineense com um senegalês, mas esta é a realidade…
Assumimos todos os riscos este ano e até reduzímos o preço da viagam em comparação com o ano passado que era de 4.250 000 fcfa e este ano, reduzimos um pouco o preço para 4.000 000 fcfa. Pode-se pensar que é pouca coisa, mas imagina subtrair 250 mil fcfa em cada peregrino e este valor tem que ser acrescentado é obtido em algum lugar…
OD: Vai ser possível preencher integralmente a quota de 751 peregrinos, uma vez que já não existe a bolsa que permitia a participação em massa de peregrinos. Que estratégias foram delineadas para alcançar esse objetivo?
CSC: Não quero falar de bolsas, porque não existem. Quero falar daquilo que temos e o que estamos a fazer neste momento. Temos a nossa comunidade na diáspora que faz a peregrinação a partir dos países de acolhimento, mas depois de cumprir todos os rituais regressam à Guiné-Bissau para fazer a cerimónia de receção realizada pela família. Mostramos à nossa comunidade na diáspora que agora é possível viajarem por meio da quota da Guiné-Bissau e organizarem as suas viagens a partir dos respectivos países. A comunidade guineense na Gâmbia e Senegal, vão concentrar-se em Banjul (Gâmbia) para viajar na quota da Guiné-Bissau.
A comunidade guineense que está na Europa vai concentrar-se em Bruxelas (Bélgica) e seguir a viagem direto para a Arábia Saudita, integrando a caravana da Guiné-Bissau. A comunidade guineense na diáspora que viajarão a partir dos pontos indicados vão integrar a caravana dos peregrinos da Guiné-Bissau, cumprindo todos rituais, regressarão juntos a Bissau e onde serão recebidas pelas suas famílias.
OD: A emissão de vistos para os peregrinos tem sido um grande obstáculo para o Alto-Comissariado. Este ano, os vistos serão emitidos no país. No caso dos candidatos que viajem a partir do estrangeiro na quota da Guiné-Bissau, como serão tratados os procedimentos relativos aos seus vistos?
CSC: Atualmente em nome da tecnologia é possível emitir o visto eletrônico a partir de qualquer parte do mundo. Decidimos adquirir máquinas para emitir vistos a partir de Bissau, portanto tomamos essa decisão para ganharmos mais tempo e minimizar os custos e sofrimento dos peregrinos.
Ano passado, eu é que transportei os passaportes para Dakar e aí vi que os vistos são emitidos num quarto de uma pessoa e com a má qualidade de impressão. Quando voltei, disse ao chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, que no próximo ano queremos emitir os vistos da peregrinação a partir de Bissau. Ele nos apoiou, por isso decidimos comprar duas impressoras no Dubai. Se tudo correr como o previsto, esta semana vamos iniciar a emissão de vistos a partir de Bissau, porque todos os países é assim que procedem.
Em nenhuma parte do mundo não se desloca diretamente para as Embaixadas da Arábia Saudita para emitir vistos. Os nossos irmãos candidatos à peregrinação serão orientados para enviarem cópia de documentos para a emissão de vistos.
OD: Senhor Alto-Comissário, entre o Alto-Comissariado e o Governo, quem ficará responsável pelo charter do voo para transportar os peregrinos? E que rota será proposta à companhia aérea para facilitar a viagem?
CSC: Alto Comissariado e o Governo são a mesma coisa e independentemente de tudo… o avião é alugado para transportar os peregrinos. Por exemplo, no ano passado, dissemos às pessoas que não era preciso ir ao aeroporto à espera do avião. Isso não é normal, por isso tomamos o engajamento para fretar um avião para levar os peregrinos.
Lembro que pusemos os peregrinos no centro escolar Attadammun num seminário de capacitação sobre as práticas de peregrinação. Quando chegou o avião, comunicamos as pessoas para irem para o aeroporto, portanto tudo correu normal sem nenhum problema. Estamos a adotar a mesma prática este ano, salvo se vier acontecer alguma situação de anormalidade como acontece com as questões de voos.
Queremos deixar a garantia aos guineenses que o nosso objetivo é trabalhar afincadamente para que a peregrinação corra com grande tranquilidade e sem nenhum problema. Queremos deixar um legado em termos da organização com eficácia e permitir que, quem nos substituir tenha um caminho meio andado, porque ninguém pode ficar num lugar a todo tempo, portanto isso não é o nosso objetivo nem de perto nem de longe.
OD: A rota da viagem tem sido uma das causas mais lamentadas pelos peregrinos no ano passado. O avião saiu de Bissau para Kaduna (Nigéria) e depois seguiu para a Jedda, já no regresso fizeram mais de quatro horas em Kaduna. Qual será a rota que será seguida este ano com a dinâmica que se regista neste momento?
CSC: O nosso objetivo é fazer um voo direto de Bissau para Medina e no regresso, sair de Jhidda, que é a cidade mais próxima Meca, para Bissau. O que aconteceu no ano passado foi uma questão operacional. A Guiné-Bissau assinou um contrato com uma companhia aérea através de um intermediário. E depois a situação complicou-se por incumprimento, portanto, essa foi a alternativa encontrada.
A companhia é da Nigéria e tinha um compromisso com as autoridades nigerianas, portanto para fazer dois voos seguidos, isto é levar os peregrinos nigerianos e depois voltar para transportar os peregrinos guineenses, por isso decidiram fazer um único voo através de uma escala técnica na Nigéria. Quando tivemos essa informação da escala técnica, fizemos a questão de comunicar os peregrinos sobre a rota.
OD: Um dos maiores desafios do Alto-Comissariado é o alojamento dos peregrinos na cidade sagrada de Meca e noutros locais religiosos. Como estão a ser organizadas as acomodações para os peregrinos guineenses em Meca e Medina? Há garantias de que ficarão próximas dos locais sagrados, considerando o elevado número de fiéis?
CSC: Gosto de ouvir críticas em como os peregrinos comem mal e passam sacrifícios, mas é bom esclarecer que alojar num hotel de cinco estrelas na Arabia Saudita e ficar muito próximo de locais sagradas, não é na base deste preço de quatro milhões de francos cfa.
Quando comecei a me envolver neste processo, quando ouço os valores sobre o aluguel de hotéis, sinceramente fico assustado. As pessoas têm que compreender que para morar bem na Arábia Saudita e não comer frangos somente com o arroz e comer outros tipos de pratos, não é no preço de quatro milhões de francos cfa.
OD: Que medidas estão a ser tomadas para proteger os peregrinos das temperaturas extremas em Meca, que podem exceder os 45°C? E em relação a possíveis surtos de doenças, existe algum protocolo médico específico para os guineenses?
CSC: Em relação a esta questão, há uma medida sanitária imposta pelas autoridades sauditas que devem ser levadas muito a sério no seu cumprimento. Podemos fazer uma referência de seis medidas: O candidato não deve ter falência de órgãos graves (insuficiência renal avançada que requer hemodiálise, insuficiência cardíaca avançada com sintomas com esforço físico mínimo, doença pulmonar crónica que requer utilização ininterrupta ou contínua de oxigênio e cirrose avançada com sinais de insuficiência hepática); o candidato não deve ter doenças neurológicas e psiquiátricas graves que impedem a cognição ou serem acompanhadas por deficiências motoras graves;
O candidato não deve estar sob envelhecimento, acompanhado de demência (diminuição da capacidade de memória); A candidata não deve ter gravidez nos últimos dois meses e, nem gravidez de risco em todas as fases de gestação;
O candidato não deve ter doenças infecciosas ativas com impacto na saúde pública das populações nomeadamente (tuberculose pulmonar aberta, febres hemorrágicas) e os candidatos não devem ser pacientes oncológicos (cancro) ativos que recebem quimioterapia ou medicamentos e procedimentos similares que suprimem severamente a imunidade.
Houve temperatura extremamente elevada no ano passado e este ano as previsões indicam a mesma coisa por causa dos efeitos das mudanças climáticas. A Guiné-Bissau perdeu um dos seus conterrâneos que viajou a partir da Europa.
Era um doente diabético e teve uma crise de diabete. Este ano queremos incluir na equipa técnica uma nutricionista que se encarregará de acolher os peregrinos, de acordo com as suas patologias, que tipo de comida poderia comer e talvez isso minimizará este sofrimento. Temos uma equipa médica liderada pelo Dr. Tumane Baldé, que vai orientar os peregrinos sobre os tipos de exames que podem fazer no sentido de descartar as doenças elencadas como medidas sanitárias…
OD: Assinaram recentemente um acordo com um dos bancos comerciais de Bissau e com a finalidade de facilitar os peregrinos a movimentar-se com o dinheiro. Para além desta facilidade criada para os peregrinos, que tipo de apoio será disponibilizado mais aos peregrinos em termos de comunicações (linhas de emergência, tradutores, assistência consular) durante a viagem?
CSC: Estamos a negociar com a Orange Bissau neste momento, porque na Arábia Saudita assim como em vários países do golfo, a utilização de aplicativos das redes sociais conhecidos no país para a comunicação (WhatsApp e Messenger) é muito limitado, as vezes é preciso baixar um outro aplicativo para facilitar a comunicação.
Estamos a tratar dos peregrinos que, na sua maioria, são da terceira idade, com dificuldades de compreender os telefones android, por isso estamos a negociar com esta companhia nacional de telecomunicações no sentido de nos atribuir telefones com comunicações em roaming aberta para facilitar a comunicação entre os peregrinos e os seus familiares.
Em relação à assinatura do acordo com o Banco Ecobank, visa essencialmente aliviar o sofrimento de peregrinos à espera da transferência do dinheiro da parte dos seus familiares. São milhares de pessoas que estarão em Meca e Medina para a peregrinação, então haverá muitas dificuldades na transferência de dinheiro, por isso optamos por este formato que entendemos que vai facilitar muito mais os peregrinos. É um cartão bancário pré-pago e a pessoa não precisa criar conta bancária neste banco.
Apenas tem que carregar o valor de 150.000 francos cfa (aproximadamente, 250 dólares norte americanos) no mínimo no cartão, portanto este é o acordo que chegamos com o banco. O cartão serve para fazer o pagamento e não haverá nenhum risco em termos de funcionamento. Teremos na nossa equipa um grupo de jovens estudantes guineenses na Arábia Saudita para orientar os nossos peregrinos e apoiar-lhes a fazer compras. Quero anunciar aqui que estamos a trabalhar na criação de um banco de dados online, onde terá toda a informação sobre a peregrinação numa plataforma que estamos a criar.
A pessoa pode entrar na plataforma para saber em que ano foi a peregrinação e esta plataforma terá dados sobre o peregrino com toda a informação, data de nascimento, número de passaporte, grupo sanguíneo, entre outros.
Temos uma situação que estamos a gerir até hoje. Há uma senhora que foi a peregrinação em 2019 e até hoje não voltou ao país, portanto não temos a informação do seu paradeiro.
Pedimos aos guineenses que acreditem na direção do Alto Comissariado que está a imprimir uma dinâmica muito transparente em termos da organização. O nosso objetivo é trabalhar arduamente à semelhança de outros países modelos em termos de boa organização. Pedimos, através desta entrevista ao jornal O Democrata, aos fiéis muçulmanos que regularizem as suas situações da peregrinação quanto antes, porque só assim estaremos em condições de organizar com a maior eficácia.
Por: Assana Sambú
















