Opinião: SERÁ QUE NÃO EXISTE UM ESTADO PEQUENO? O QUE KWAME NKRUMAH NOS DIRIA SOBRE ISSO?

No seu livro publicado em 1965, denominado de “Neocolonialismo: O Último Estágio do Imperialismo”, Kwame Nkrumah fez uma das análises mais incisivas e influentes sobre as estruturas de dominação que sucederam o colonialismo formal na África e no mundo em desenvolvimento. Escrito após sua derrubada como presidente de Gana, Nkrumah expõe com clareza revolucionária como as potências ocidentais, lideradas pelos EUA, mantinham controle econômico, político e cultural sobre nações nominalmente “independentes”. Ele argumenta que o “neocolonialismo é mais perigoso e insidioso que o colonialismo aberto, pois opera através de mecanismos aparentemente legítimos, enredando as jovens nações em redes de dependência que perpetuam a exploração”.

Para o grande pensador e revolucionário africano, “o neocolonialismo de hoje representa o imperialismo em sua fase final e talvez a sua forma mais perigosa”. Porque segundo Nkrumah, “a essência do neocolonialismo é que o Estado que o sofre é, em teoria, independente e tem todas as vestes externas da soberania internacional. Na realidade, o seu sistema económico, e assim a sua política, é dirigida de fora.” Pois o que chamamos de independência que na verdade é a “independência política” é uma fachada quando o controle econômico decisivo permanece nas mãos de potências estrangeiras e seus agentes (corporações, instituições financeiras). Portanto, a soberania nacional é minada pela dependência econômica.

Nkrumah vai ainda longe, quando define os dois mecanismos de dominação: Primeiro, “o controle sobre a política governamental do Estado neocolonial pode ser exercido através de meios tais como o controle, por força ou influência, sobre as suas comunicações; pressão diplomática; ajuda militar e econômica com condições; controle sobre o comércio exterior; imposição de políticas monetárias e fiscais” e o segundo mecanismo de dominação é através das “instituições financeiras internacionais – são utilizadas como instrumentos de penetração neocolonial – elas impõem políticas aos países subdesenvolvidos que servem aos interesses do Ocidente.” Nkrumah estava se referindo às duas grandes instituições neocoloniais do mundo, FMI e Banco Mundial, obviamente, atualmente existem vários outros mecanismos e instituições de dominações.

Ou seja, controle é exercido de forma multifacetada, indo além da força militar direta. Ele destaca o papel crucial das instituições financeiras internacionais em impor políticas de “ajuste” que beneficiam credores e corporações estrangeiras, muitas vezes em detrimento do desenvolvimento autônomo. A maioria das vezes os ajustes e as austeridades econômicas são direcionados para setores primordiais para o desenvolvimento sustentável do país, como por exemplo, cortes de gastos em educação, saúde, políticas sociais, etc.

Nkrumah identifica as grandes corporações internacionais como atores centrais do neocolonialismo. Seu poder econômico lhes concede influência política desmedida, permitindo-lhes moldar as economias nacionais para a extração de recursos e lucros, não para o desenvolvimento integrado local. Dominam os setores-chave da economia, mas também influenciam profundamente a política e os meios de comunicação de massa do país, ditam os termos aos governos dos Estados Neocoloniais.

Portanto, segundo Nkrumah, a luta contra o neocolonialismo não termina com a conquista da bandeira nacional e do hino; ela só pode ser dita terminada quando cessar a dependência económica.”

A Falsa Independência e a “Ajuda” Estrangeira é, em grande parte, um mito – é uma forma de investimento que rende juros altos e cria laços de dependência que podem ser utilizados para fins políticos e econômicos.” Nkrumah alerta que a independência política é apenas o primeiro passo. A verdadeira libertação requer independência econômica. Ele vê grande parte da “ajuda” externa como um instrumento de controle e dívida, perpetuando a subordinação em vez de aliviá-la.

Concluindo, as reflexões do Khrumah servem como uma alerta perene contra as formas sutis de controle que podem persistir mesmo após a conquista da independência formal. Não são apenas reflexões históricas, representam um chamado à ação contínua para a soberania econômica, a justiça e a realização plena da libertação africana.

Portanto, quando um governo de um Estado depende de ajuda externa para honrar seus compromissos e as suas obrigações, este sim é um verdadeiro Estado Pequeno.

Por: Rafael João Dias

Doutorando em desenvolvimento econômico – IE/UNICAMP

Referência: Nkhrumah, K. “Neocolonialism: The Last Stage of Imperialism”, 1965.

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