Luta Livre: DIAMANTINO FAFÉ QUEIXA-SE DE ABANDONO PELO GOVERNO E RECLAMA TRATAMENTO IGUAL AOS DE FUTEBOL 

O atleta guineense e campeão Africano de Luta Livre de 57kg, Diamantino Luna Fafé, que já conseguiu trazer ao país 8 medalhas de ouro, queixou-se de abandono pelo governo devido ao incumprimento de algumas exigências, relativamente às condições adequadas de trabalho e aos prémios da sua participação nas diferentes competições de Luta Livre desde 2017.  

Descoberto pela Federação de Luta da Guiné-Bissau (FLGB) em Binar, região de Oio, Luna Fafé é obrigado a sair todos os dias de Safim, a correr, até ao Estádio 24 de Setembro em Bissau para treinar e manter a sua condição física e a sua performance nas competições internacionais. 

Denunciou que, devido à falta de condições técnicas e financeiras na Guiné-Bissau, tem recebido vários aliciamentos financeiros dos países como Marrocos, Egito e Argélia para deixar os seus adversários vencerem as lutas, mas sempre recusou devido ao seu compromisso com a nação guineense. 

Luna Fafé, que já participou nos Jogos Olímpicos de Tóquio e de Paris, sagrou-se tricampeão africano da modalidade em Casablanca, Marrocos, no mês de maio último e volvidos quase três meses o atleta ainda não recebeu o prémio.

A informação foi transmitida pelo próprio atleta guineense, em entrevista concedida ao jornal O Democrata, no dia 17 de julho, em Bissau. Durante a entrevista ao semanário privado, Fafé abordou vários assuntos, entre os quais a sua etapa como atleta. 

“Consegui trazer 8 medalhas de ouro para a Guiné-Bissau e participei em dois Jogos Olímpicos. Recentemente, participei no Campeonato Africano de Luta Livre onde consegui mais uma medalha de ouro que deixou toda nação guineense com alegria. Mas as autoridades prometeram dar-me o prémio financeiro da minha participação, inclusive enviei o número da conta bancária desde mês de maio, mas até agora não honraram o compromisso. Foram várias promessas não cumpridas. Esta e outras situações levaram o nosso colega M’bundé Cumba M’bali a fugir em França em 2023, após o Grande Prémio Henri Deglane”, declarou. 

“Eu podia fazer igual ao M’bundé Cumba M’bali, mas não fiz por causa da Guiné-Bissau. Confesso que sinto-me abandonado pela Guiné-Bissau, devido à falta de tratamento. Como uma pessoa que conseguiu trazer 8 medalhas de ouro para a Guiné-Bissau como é possível continuar nessa situação?”, questionou, lembrando que só recebeu apoio do presidente da FLGB, João Bernardino Soares da Gama e alguns amigos. 

Desapontado com a situação, Luna Fafé revelou que nos últimos tempos tem-se dedicado a lavoura na sua aldeia para colmatar a insegurança alimentar da sua família, numa altura em que se avizinha a próxima competição internacional.

Fafé lembrou ainda que os seus colegas atletas já estão a preparar-se para a competição, mas no caso da Guiné-Bissau os atletas continuam sem saber quando é que começarão a sua preparação. 

Perante este cenário, o Campeão Africano de 57kg questionou as autoridades sobre os resultados desportivos que a Seleção Nacional de Futebol tem trazido ao país e que tem motivado o governo a criar condições adequadas para realizar os seus jogos internacionais. 

“O que é que o futebol tem dado ao país mais que o Diamantino Luna Fafé na luta Livre? O futebol tem beneficiado de muito dinheiro e eu não posso tomar também muito dinheiro? Já tenho disponibilizado a minha conta bancária, mas até agora o dinheiro não entrou”, questionou. 

Neste sentido, Luna Fafé reclamou do executivo igualdade de tratamento que os atletas de futebol têm tido durante a sua participação nas competições internacionais.

Fafé explicou ainda que recentemente enviou uma missiva à Ministra da Cultura, Juventude e Desportos, Maria da Conceição Évora, para solicitar apoio, mas até agora não recebeu sequer uma única resposta favorável da governante. 

Apesar destas dificuldades financeiras, Luna garantiu que vai continuar a competir para a Guiné-Bissau, mesmo com aliciamentos que tem recebido, contudo pediu que sejam criadas condições adequadas para os atletas de Luta Livre. 

No próximo mês de Agosto, a FLGB tem em agenda mais uma competição na Costa do Marfim, mas Luna Fafé poderá não participar, caso não sejam criadas as condições necessárias para o efeito. 

“Se não for feita a transferência bancária, não vou participar nesta competição ou posso deslocar-me até ao Casta do Marfim e recusar competir durante a prova”, afirmou Luna Fafé. 

O atleta guineense revelou que conseguiu construir uma casa em Safim, mas devido à falta de engajamento do executivo está com enormes dificuldades financeiras para concluir as obras. 

Nascido em junho de 2001, Diamantino Luna Fafé já participou nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e Paris 2024 na categoria de 57kg, representando a Guiné-Bissau. Luna Fafé também já participou nas várias competições da modalidade, onde alcançou as medalhas de ouro e de bronze. 

Depois da proeza nos dois últimos Campeonatos Africanos de Luta, em 2023, na Tunísia, e 2024 no Egito, Luna Fafé voltou a conquistar mais uma medalha de ouro no Campeonato Africano da modalidade em Casablanca, Marrocos no mês de maio, sagrando-se o tricampeão africano de luta livre. 

Com a revalidação do título de Campeão Africano numa disputa bastante equilibrada, o jovem atleta guineense conseguiu manter-se na liderança do ranking na categoria de 57kg em África e a melhorar a sua posição no ranking mundial da sua categoria. 

A FLGB, que dirige uma das modalidades desportivas com maiores proezas nas competições internacionais, tem lamentado a falta de apoio financeiro das autoridades governativas e queixou-se de ter sido abandonada pelo executivo.

O órgão tem participado em diferentes competições internacionais de Luta Livre, com destaque para o Campeonato Africano e o Mundial da modalidade, com o apoio do Comité Olímpico Nacional e de parceiros internacionais.

Por: Alison Cabral 

Foto: AC

Author: O DEMOCRATA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *