O engenheiro informático e especialista na área de “Analise de Sistemas” e com pós-graduação em “Sistema JAVA”, Suleimane Manuel Nanque (Aladje) criou um portal na internet exclusivamente para a promoção das músicas nacionais bem como dos nossos músicos e cantores. O referido portal é denominado “Canal Guiné-Bissau – www.canalguinebissau.com” e é um lugar onde todos os músicos tanto da velha e como os da nova geração terão oportunidades de promoverem as suas obras para o mundo.
O jovem guineense de 28 anos de idade que actualmente vive na Fortaleza (Brasil) pretende ainda implantar uma empresa de alojamento e criação de sites e portais no país, considerando o nível económico dos guineenses e das empresas que operam no país. O desenvolvimento de aplicativos informáticos também faz parte do sonho de Nanque, sendo este último uma área da sua especialização.
Manuel Nanque revelou ao nosso jornal que é difícil encontrar músicas nacionais na internet. Por isso, entende que ele, na qualidade de engenheiro informático, sempre mentalizou-se que é sua obrigação contribuir nesse domínio, ajudando os guineenses a terem um sítio onde possam encontrar músicas, vídeos e até conhecer biografias dos nossos cantores.
“O DEMOCRATA” (OD): Jornal O Democrata sabe que criou um canal de músicas. Pode nos falar um pouco de como surgiu essa ideia?
SULEIMANE MANUEL NANQUE (SMN): Inicialmente queria fazer algo para apresentar o meu país sempre, que um amigo ou colega da universidade perguntasse sobre o assunto.
Ao acessar sites como Youtube, letras.mus.br, constatei a dificuldade em listar músicas de um determinado cantor de Guiné-Bissau, daí resolvi criar o Canal Guiné-Bissau para organizar e facilitar a visualização das músicas dos cantores do nosso país.
OD: Mas o canal é apenas para músicas? Ou conta com outras rubricas?
SMN: Na primeira fase, o projeto oferece apenas recursos musicais: uma sessão especial “Top Nacional” está reservada apenas para músicos e grupos musicais do país. Na próxima fase pretendo adicionar informações com biografia dos músicos, datas e locais de espectáculos marcados pelos nossos cantores.
OD: Para si, quais são as valias que o “canalguinebissau” poderá trazer a música do nosso país, assim como para os nossos músicos?
SMN: Um local na rede de internet onde o principal conteúdo de divulgação são as músicas da Guiné-Bissau, acredito que o “canalguinebissau” pode proporcionar mais visibilidade às músicas do país e consequentemente aos nossos músicos.
OD: Sabe-se que tem outro projeto na manga para implementar no país, que passa pela criação de uma empresa de alojamento e criação de sites, assim como dos aplicativos. Pode nos explicar um pouco sobre o referido projecto?
SMN: Participei em alguns projectos da inovação tecnológica. Constatei a importância de acesso às informações dentro de uma organização, seja ela governamental ou não-governamental. Inicialmente pretendo criar mecanismos que ofereçam hospedagem de sites e portais dentro da realidade financeira do nosso país, em seguida desenvolver softwares de gestão de negócios que disponibilize informações estratégicas para a tomada de decisão, dentro das organizações.
OD: O que lhe motivou a apostar numa iniciativa empreendedora na área das novas tecnologias?
SMN: Primeiro, por ser minha área de formação tanto na graduação quanto na especialização. Além de mais, no mundo globalizado, estar na rede de internet significa acessar a uma porta que pode abrir oportunidades em diversos países. Desenvolver projectos na área de novas tecnologias é uma forma de criar o portfólio da Guiné-Bissau e apresentá-lo ao mundo.
OD: Que análise faz da prestação dos estudantes guineenses no Brasil, principalmente na cidade onde mora?
SMN: Apesar das informações que percorrem nas cidades do nosso país, dos estudantes que conheço maioria não só concluíram a graduação, mas frequentam pós-graduação. As dificuldades existem. Em relação aos estudantes guineenses, vale salientar que cada caso é um caso, o que presenciei é o esforço da maioria para concluir os estudos.
OD: Como é que vivem a situação política do país em solo brasileiro?
SMN: Sempre que no país passa momentos de crise política é nítida a preocupação dos estudantes. As manifestações dessas preocupações geralmente acontecem pelas redes sociais.
Também existem associações de estudantes guineenses que nos momentos oportunos realizam eventos para promover a nossa cultura, mas, quando se fala de Brasil, um país continental, por aqui pouco se sabe sobre o país e a cultura guineense.
OD: Quais são as expectativas e o futuro que, na sua análise, os nossos estudantes no Brasil têm para o país?
SMN: Dos estudantes que conheço, a maioria pretende construir carreira profissional de sucesso no solo pátrio de Amílcar Cabral e contribuir para o crescimento do país.
OD: Fala-se muito no país de alguns estudantes que em vez de se dedicarem aos estudos no Brasil, optam por vezes, em frequentar locais como discotecas, praias e lugares até considerados de risco. Tem algum comentário sobre isso?
SMN: Tudo que sei são apenas informações, não posso comprovar a veracidade dos factos em relação a esse assunto, porque, desde que cheguei ao Brasil tentei concentrar ao máximo nos estudos.
OD: Como foi a sua integração na sociedade brasileira?
SMN: Foi positiva, não tenho reclamações do povo brasileiro, que sempre me tratou bem.
OD: O Brasil é um país considerado de alto risco, no que concerne a questão de segurança. Já teve algum problema de segurança na rua?
SMN: Já fui assaltado, mas, o que constatei durante esses anos é que para grande maioria dos brasileiros, nós somos apenas humildes estudantes africanos a procura de um futuro promissor. Por isso o estudante que visa apenas sua formação profissional não tem problemas no Brasil, contudo é claro que existe casos particulares.
OD: Como é que a comunidade estudantil no Brasil viveu a morte daquele jovem estudante guineense, supostamente agredido por desconhecidos? Tem na memória quantos guineenses que já foram assassinados?
SMN: Não sei dizer o número de guineenses assassinados no Brasil. A única informação que tive é de apenas um caso, teve mais óbitos, mas, pela informação que tive o motivo era doença.
OD: Neste momento está a trabalhar numa empresa voltada às novas tecnologias. Pode nos falar sobre essa experiência? E como conseguiu conciliar a vida estudantil e laboral?
SMN: Durante toda minha graduação, não trabalhei, apenas fiz programas de estágio.
Ao terminar graduação, comecei a especialização em JAVA. Como as aulas de especialização são apenas aos sábados e a tempo integral, consegui conciliar o trabalho com as aulas de especialização. No momento trabalho como analista e desenvolvedor de sistemas JAVA.
OD: Como foi a sua integração na empresa, sendo você de uma cultura totalmente diferente da dos brasileiros?
SMN: Não tive problemas na integração tanto na faculdade quanto no estágio que resultou na minha constatação como profissional.
OD: Alguma vez já foi vítima de racismo, ou tem na memória um caso de um colega seu guineense ou africano, vítima do racismo?
SMN: Não sofri nenhuma discriminação racial no Brasil, e como demonstra as pesquisas, o índice de racismo no Brasil é baixo se comparado principalmente com os países da Europa.
OD: Está a concluir a sua especialização no domínio do desenvolvimento de aplicativos. Pode nos revelar quantos e quais são os aplicativos que já desenvolveu na sua empresa ou em casa?
SMN: Na empresa onde trabalho, participei no desenvolvimento de portal (Site Institucional), desenvolvimento de CRM (Sistema de Relacionamento com Clientes) e recentemente participei no processo de desenvolvimento do sistema BI (Business Intelligence). Já fiz muitos aplicativos e participei de outros projectos extras com colegas de Universidade.
OD: Como estudante no estrangeiro, o que gosta de fazer nos tempos livres?
SMN: Quando cheguei ao Brasil, percebi que esses preciosos anos de estudo preciso usá-los exclusivamente para estudo, por isso o meu lazer tende a zero. O facto de que nunca ter participado nas festas organizadas pelos estudantes descreve o uso do meu tempo livre.
OD: Qual é seu maior sonho como engenheiro informático (analista de sistemas)?
SMN: Desenvolver softwares integrados de gestão pública que ajudem a melhorar a qualidade de vida no nosso país.
OD: Que mensagem tem para o povo guineense, seus familiares e colegas que deixou na Guiné-Bissau?
SMN: Para o povo guineense desejo paz e progresso (literalmente) e peço que não desistam do nosso país.
Quero aproveitar para agradecer todos os meus familiares que acompanharam esta minha trajetória estudantil. Agradeço a Deus, à minha mãe Ana Maria Ferreira Duarte (Anita), à minha tia Safiatu Cassamá (tia Dó), ao marido da minha tia, meu tio Adão Carlos Medina, meus irmãos e amigos que sempre me apoiaram.
Por: Sene Camará/Assana Sambú
















