Opinião: O BRASIL NO COMBATE CONTRA O ZIKA

Por: Fernando Apparício da Silva, embaixador do Brasil

Em outubro de 2015, o vírus zika foi, pela primeira vez, diagnosticado no Brasil. Atualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde, 24 países e territórios das Américas já foram afetados pelo vírus. O vírus não existe unicamente no Brasil e nas Américas: é conhecido há algumas décadas em outros países e regiões.

A doença causada por esse vírus – transmitido pelo mesmo vetor da dengue e da chikungunya, o Aedes aegypti, que se reproduz em focos de água parada – foi rapidamente caracterizada como epidemia pelas autoridades públicas brasileiras. Ainda não há comprovação científica acerca da transmissão da doença por outras vias além da picada do mosquito contaminado. Cerca de 80% das pessoas que contraem o vírus não apresentam sintomas. Entre aqueles que apresentam, os sintomas mais comuns, que se assemelham ao de uma leve gripe, são febre, manchas na pele, conjuntivite, dores musculares ou nas articulações.

A principal preocupação diz respeito à associação entre o contágio de mulheres pelo vírus durante a gravidez e o nascimento de bebês com microcefalia, uma condição congênita em que a cabeça e o cérebro do recém-nascido são significativamente menores do que ocorre em média com os demais recém-nascidos. Mais dados, investigações e análises são necessários antes que essa associação – descoberta por técnicos de saúde brasileiros – seja complemente esclarecida. A microcefalia em recém-nascidos pode ser causada por outras doenças e ter outras causas.

No Brasil o combate ao zika é uma prioridade nacional. O Governo brasileiro montou uma força-tarefa sem precedentes, com recursos financeiros, tecnológicos e científicos para prevenção e combate do mosquito transmissor e da doença no curto, médio e longo prazo.

Cerca de 220 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica se uniram a 300 mil agentes públicos e a milhares de voluntários em todo o Brasil para o combate aos criadouros em todas as casas do país.

O dia 13 de Fevereiro foi decretado Dia Nacional de Mobilização contra o Aedes aegypt. A mobilização nacional mobilizou 353 municípios do país. No dia 19 de Fevereiro, escolas de todo o país uniram esforços no Dia Nacional de Mobilização da Educação contra o Zika. As atividades nas escolas conscientizaram milhões de estudantes para o combate ao mosquito.

Prefeituras brasileiras estão utilizando veículos aéreos não tripulados, os chamados “drones”, no reconhecimento de focos de proliferação do mosquito transmissor.

No plano da pesquisa, o Brasil possui instituições de renome internacional, com vasta experiência em medicina tropical, que estão investindo em tecnologias e pesquisa com vistas ao desenvolvimento de vacinas e de novas terapias.

O Brasil está comprometido com a comunidade global na busca de tratamento e vacinas. A identificação do agente patógeno e a descoberta dos indícios de correlação entre o zika e a microcefalia são o resultado dos esforços de serviço de atenção primária do sistema de saúde brasileiro e da colaboração entre instituições brasileiras de investigação, a OMS, a Organização Panamericana de Saúde, o Instituto Pasteur e o Centro para Controle e Prevenção de Enfermidades dos Estados Unidos.

É importante evitar desinformação ou explorar a informação com fins sensacionalistas, alarmistas ou outros.

Tendo em vista os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, o Governo brasileiro está tomando as maiores precauções. Todos os locais de obras de instalações olímpicas vêm recebendo visitas dos agentes de vigilância ambiental em saúde para controle de possíveis focos do mosquito. Serão eliminados quaisquer possíveis reservatórios remanescentes das obras e tratados aqueles não passíveis de eliminação, para evitar o surgimento de focos do mosquito. Os funcionários dos locais identificarão e eliminarão possíveis depósitos. Durante os Jogos, todas as instalações olímpicas terão pelo menos um agente de vigilância ambiental de saúde credenciado, para atuar diariamente na busca, eliminação ou tratamento de depósitos que possam se tornar potenciais focos do mosquito. Além dos agentes credenciados para atuar dentro das instalações olímpicas, também haverá equipes de vigilância ambiental em saúde trabalhando nos arredores das áreas de competição e dos locais com grandes aglomerações para o controle do mosquito em toda a região. Os jogos acontecerão durante o inverno no Brasil, quando as temperaturas mais amenas inibem o mosquito.

Diante de todos esses esforços, em visita de trabalho ao Brasil a Diretora-Geral da OMS, Margaret Chan, manifestou grande satisfação com a liderança da Presidenta Dilma Rousseff e com mobilização para enfrentar o vírus e com a transparência das autoridades brasileiras no compartilhamento de informações com a sua Organização.

A Diretora-Geral disse aos jornalistas: “Eu tenho a dizer a vocês que nunca tinha visto uma mobilização tão vasta pelo Presidente de um país, em termos de velocidade, escala, abrangência e coragem diante de um desafio tão difícil. Além dos Ministros, ela está mobilizando a comunidade, a sociedade civil, os líderes religiosos e o setor privado para enfrentar um inimigo formidável, o mosquito Aedes aegypt”.

Sobre os Jogos, ela disse: “Estamos em fevereiro e os Jogos Olímpicos são em agosto. O governo está trabalhando muito proximamente com o Comitê Olímpico Internacional, com o comitê organizador local, apoiado pela OMS e pela Organização Pan-Americana de Saúde, para assegurar que tenhamos um bom plano de trabalho para atacar o vetor, o mosquito.

A luta contra o vírus é global, regional e nacional. No Brasil, as autoridades, a comunidade científica e a população estão plenamente engajados no combate ao vírus. Tomando as precauções necessárias para evitar a proliferação do mosquito, todos estarão fazendo a sua parte para combater essa doença.

 

Por: Fernando Apparício da Silva

Embaixador da República Federal do Brasil na Guiné-Bissau
Bissau, 26.02.2016

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