Crônica: A ESCADA

Todos nós sem exceção, com rostos descobertos, contudo coberto de rugas de canseira milenar, contemplamos a glória: a ascensão e a queda do imperador. Naquela mesma imagem vimos transformados em marionetes que, mais uma vez, usados para a reascensão vergonhosa segundo a ação de espíritos incautos.

Nos tempo que correm melhor tentarmos delinear os degraus das escadas do exatamente falar de escadas em si. Não me parece ser a escada do apocalipse, o tal do juízo final que chegará com um grande dragão de sete cabeças, todas elas em sarças ardentíssimas, com fogo para castigar e fustigar os errantes peregrinos desta terra que, na linguagem do vulgo, quer dizer os malvados, aqueles fora da lei e dos mandamentos de Moisés. E não falo de Moisés meu primo, o coitado que busca um lugar ao sol e não o encontra, nem de outros homónimos seus. Falos das leis ou mandamentos que sabedoria da igreja católica nos ensina no catecismo.

Melhor seria o carro do sol e o trono do céu terrestre do que àquele desconhecido que nos pregam nas missas e nos ensinam na catequese ou até mesmo lemos nalguma página da Bíblia. Quiçá em algum livro de teologia especializada de algum grande teólogo ou um exímio exegeta.

Bem, voltando aos sete degraus da escada, começamos com o degrau da luz, pois como ainda diz o vulgo, da confusão nasce a luz. Esperamos. Ou melhor esperemos.

Sete degraus de glória onde residem os Eleitos da nossa praça que se encontram no livro 14 da história menina da nossa nação.

Primeiro degrau de glória: ao vencedor as batatas inglesas para engordar a pança e respirar cansado até que o infarto o leve na Santa Paz de Deus.

Segundo degrau de glória: seja fiel e sufa convenientemente enquanto as tuas forças e energias tos permitirem, pois terás um lugar no ministério ainda que não sejas ministro.

Terceiro degrau de glória: ao vencedor que antes receberia as batatas inglesas, recebe, agora, neste exato instante, as batatas da terra, e um strakkar branco com novas arcas para, efetivamente, gelar as cervejas e, se possível, levar para as barracas de fanado, quando as marés ficam bravas nas praias das cidades litorâneas. E quem sabe ali mesmo nos interstícios vaginais dos arquipélagos. Poderá curtir de montão o vento gelado do atlântico já que Caraxe inopera há muito.

Quarto degrau de glória: àquele que se mantiver fiel a mim até ao fim do meu mandato, lhe darei oportunidade de abrir uma afortunada conta na Suíça ou nas Ilhas Caymann, terá aposentadoria garantida para o resto da vida. Assim, aos seus e aos descendentes dos seus – meto Céus nisto só para complicar -, desde que nenhum maluco o venha a fustigar a vida. Garanto isto com a mesma autoridade com os meus colaboradores lá de fora e os que aqui estão me garantem a privicy sobre as minhas contas externas extra-oficiais.

Quinto degrau de glória: ao meu comparsa darei um lugar no templo de Deus, pois é para lá que vão os Eleitos da terra, ainda que oriundos dos escusos caminhos da corrupção, donde jamais sairão. Mas, se porventura, Deus decidir passar a pente fino os atos de cada um, eu me viro sozinho e aí, me desculpem, cada um por si, salve-se quem puder. Porque na cidade de Deus moram os pobres – que são os ricos de espírito (ensina a Bíblia). Será a nova Jerusalém castigada e restaurada. Mas a confusão resta. Permanece. Basta vermos o Médio Oriente para comprovarmos.

Sexto grau de glória: a nova Jerusalém com os problemas antigos e velhos. Mas nova porém.

Sétimo degrau de glória: ao vencedor farei sentar-se, junto de mim, sobre o meu trono, como eu venci e estou sentado a direita do Pai sobre seu trono, mas não corroboro com injustiças, iniquidades, latronices, falsidades e vãs promessas de construção de uma nova nação irmã.

Na glória do trono há a mística que gravata entorna a pessoa do Chefe. Este depois de uma devota vida terrena nos poilões e Kansarés, Balobas e Irãs de pedra, foi elevado ao altar-mor dos sábios ancião, os super-homens da nossa pátria gentil, tornando-se o príncipe do vulto divino, por isso se dizia em Mindará: “Queremos o Titio de volta”. Desta feita todas as iras e subversões estão sob os seus pés, o enigmático, o lendário comandante sempre em frente, o Eleito por Deus desde o começo dos começos, do princípio ao fim dos tempos que ainda lhe restam na terra.

El Visionario!

Caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio.

 

Por: Jorge Otinta, ensaísta, poeta e crítico literário guineense

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