O Governo da Guiné-Bissau depara-se com enormes dificuldades para garantir o abastecimento em géneros alimentícios às escolas do ensino básico unificado, no âmbito do projeto de cantina escolar, que recebia o apoio de várias organizações internacionais, incluindo o da Organização Não Governamental – Parceiros Internacionais para o Desenvolvimento Humano (IPHD) que conseguia cobrir todo o país.
De acordo com informações que circulam nas escolas, a queda de apoio em géneros alimentícios tem a ver com a suspensão do apoio da parte daquela organização norte-americana (IPHD) devido à má gestão.
O Democrata soube junto do responsável máximo daquela organização no país que IPHD não suspendeu o apoio ao programa cantina escolar, porque na verdade o programa terminou desde 2014. O facto é que havia, nos armazéns, géneros alimentícios que continuavam a ser distribuídos durante o ano 2015.
Dados do ministério da Educação e Ensino Superior indicam que antes do fim do programa, havia 1.732 (Mil setecentos e trinta e dois) alunos que beneficiavam de géneros da cantina escolar. Com o fim do programa, apenas 758 (setecentos cinquenta e oito) crianças continuaram a receber géneros doados pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM).
CRIANÇAS ABANDONAM ESCOLAS DEVIDO AO CORTE EM GÉNEROS PARA A CANTINA ESCOLAR
Os apoios em géneros alimentícios fornecidos pelas organizações internacionais ao projeto cantina escalar constituía, para os administradores escolares, uma ajuda chave para as escolas públicas do país, uma vez que fazia com que os alunos frequentassem as escolas com regularidade, sobretudo nas zonas rurais.
Uma equipa de repórteres do semanário ‘O Democrata’ ouviu o diretor da Escola do Ensino Básico Unificado do Setor de Safim, região de Biombo, Augusto Nanque, cuja escola também deixou de beneficiar da ajuda, depois do termino do programa de IPHD. Ele revelou ao nosso jornal que o corte do apoio em géneros alimentícios para a cantina escolar levou as crianças a sofrerem e muito.
“Antes não tínhamos problemas de falta de presença de alunos, mas de algum tempo para cá aqueles cujas mães vão à Bissau vender e regressam tarde, acabam por não vir à escola. Alguns continuam a vir, mas com fome. Pedagogicamente, a situação acaba por afetar o rendimento das crianças”, lamentou o administrador de uma das escolas com mais de oitocentos alunos (800 alunos).
BERNADETE DENUNCIA MÁ GESTÃO DOS GÉNEROS ALIMENTÍCIOS DA PARTE DE DIRETORES DAS ESCOLAS
A diretora dos Serviços Sociais e da Cantina Escolar do Ministério da Educação e Ensino Superior, Bernadete Lopes Correia, assegurou, em entrevista ao semanário ‘O Democrata’, que estão em curso negociações para tentar convencer a organização norte americana a voltar a fornecer géneros alimentícios.
Bernadete Lopes Correia esclareceu, no entanto, que a suspensão da ajuda aconteceu antes da sua entrada como diretora, por isso não está em condições nem na posse de informações sobre a justificação dada ou não pela IPHD para cancelar o apoio.
“O país poderia convencer outros parceiros para retomar o projeto, se tivesse uma lei sobre alimentação escolar, mas como não há, será difícil atrair mais parceiros. Por isso, torna-se urgente o Governo remeter ao parlamento o projeto lei sobre a mesma matéria para sua discussão e eventual aprovação”, acrescenta.
Na mesma entrevista, a diretora de Cantina Escolar confirmou que alguns diretores das escolas públicas foram demitidos devido a má gestão dos géneros.
“O Ministério da Educação e Ensino Superior suspendeu vários diretores que se pensa que tenham gerido com pouca transparência as ajudas destinadas apenas às crianças e não para outros fins”, explicou Lopes Correia.
Embora esteja com vontade de controlar a gestão dos géneros, Lopes Correia lamentou a falta de meios para poder dar um melhor seguimento junto às escolas que recebem ajuda alimentar do Programa Alimentar Mundial. Por isso apelou à colaboração das comunidades junto às escolas, a denunciarem qualquer tentativa de desvio de géneros alimentícios.
IPHD DESMENTE RUMORES SOBRE A SUSPENSÃO DE APOIOS EM GÉNEROS ALIMENTICIOS ÀS ESCOLAS
Entretanto, o diretor-geral da IPHD, Augusto Sá, explicou que não há má gestão por parte dos diretores das escolas, considerando de falsas às notícias que estão sendo veiculadas nos órgãos de comunicação social. Sá disse que não há nenhum trabalho feito neste sentido para apurar se houve ou não a má gestão do programa cantina escolar nas diferentes escolas do país.
Sá salienta ainda que é o USBA (departamento de agricultura dos Estados Unidos da América), quem financia o projeto cantina escolar, para de seguida acrescentar que USBA esteve no país, realizou avaliações, mas não houve nenhum indício de má gestão por parte do diretores.
“Aconteceu que o ciclo do programa que chamamos de quinto (5º) programa chegou ao seu término em 2014, mas IPHD ainda tinha nos armazéns alguns géneros alimentícios. Devido à sua boa gestão conseguiu distribuir o resto dos gêneros até 2015. Mas depois de 2015 o projeto não foi renovado, porque a situação política do país não era favorável a nível exterior”, explica Sá.
Por: Tiano Badjana/Assana Sambú
















