POSSÍVEIS VIAS ALTERNATIVAS DEPOIS DO FECHO DAS FRONTEIRAS SUL

A decisão da Guiné-Bissau de encerrar as fronteiras com a Guiné-Conacri para prevenir a entrada do vírus Ébola pode levar muitas pessoas a circular em vias transfronteiriças sem controlo, alertou hoje um antropólogo guineense em declarações à agência Lusa.

“Fechar as fronteiras é fechar as estradas principais: pode reduzir a circulação de pessoas, mas pode encorajar a procura de vias alternativas, não controladas pelas autoridades”, referiu Mamadú Jao, especialista em estudos africanos.

Essas ligações, por onde se pode circular a pé e em velocípedes, existem um pouco por toda a fronteira e representam um desafio.
“Não sei se logisticamente o país estará preparado. Politicamente e pela preocupação que existe até podemos compreender a medida, mas o problema está, em termos práticos, na forma como as autoridades a poderão operacionalizar”, sublinhou.

Para Mamadú Jao, devem ser ponderadas “ações de acompanhamento para que esta decisão possa ter o efeito desejado”, alertando também para a vulnerabilidade das fronteiras marítimas, através do arquipélago dos Bijagós.

O investigador levanta ainda outras questões, que revelam “a complexidade” do assunto.
“Há tabancas [aldeias] divididas, com um lado na Guiné-Bissau e outro na Guiné-Conacri”, e existem também muitas famílias “dependentes das trocas comerciais” transfronteiriças que se arriscam a perder rendimentos.
Domingos Simões Pereira, primeiro-ministro da Guiné-Bissau, defendeu na terça-feira, ao anunciar o encerramento de fronteiras com Conacri, que a medida é necessária e deve ser compreendida.

“É muito importante que a população compreenda que não há uma guerra entre o governo e a população. Há, sim, uma necessidade de informar dos riscos e de poder contar com a colaboração de todos. O risco refere-se a algo extremamente grave e perigoso”, sublinhou.

Para o primeiro-ministro, “não vale a pena provar que o governo não tem capacidade de controlar as fronteiras, é sim importante colaborar para que o isolamento seja efetivo e se possa evitar a entrada desta doença”.
Nenhum caso de Ébola foi registado na Guiné-Bissau, mas o encerramento de fronteiras foi anunciado na terça-feira pelo líder do governo no âmbito de um programa de emergência sanitária motivado pela presença do vírus na vizinha Guiné-Conacri.

Fonte: Lusa

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