O Coordenador do Programa do Comité Nacional para Abandono das Práticas Tradicionais e Nefastas à Saúde da Mulher, Bubacar Baldé, afirmou que o setor da Comunicação Social tem um “papel central, preponderante e indispensável” na busca, tratamento e difusão de informação relacionada com a Mutilação Genital na Guiné-Bissau.
Baldé fez estas considerações na passada terça-feira 27 de outubro, durante uma entrevista concedida ao Jornal O Democrata, para falar das práticas consideradas nefastas à saúde das mulheres e crianças, a margem do seminário destinado aos jornalistas sobre Mutilação Genital Feminina (MGF), Violência Baseada no Género (VBG) e Saúde Sexual Reprodutiva (SSR) em Bafatá, leste do país.
“No entendimento da nossa organização, a comunicação social tem um papel central, preponderante, indispensável e incontornável, quer na busca, no tratamento e assim como na difusão de melhor informação, melhor compreensão, sensibilização e conscientização da população sobre a Mutilação Genital no país”, declarou o ativista social.
“Uma informação mal tratada, mal dada à população, pode gerar polémica e a polémica pode acabar em situações da resistência” advertiu Bubacar Baldé para de seguida avançar que os jornalistas têm papel fundamental na promoção de melhor comunicação para a mudança de comportamentos em relação à prática considerada crime na Guiné-Bissau.
O responsável da estrutura que luta contra a mutilação genital feminina, diz que a mudança de comportamentos vai ajudar muito no respeito pelos valores dos direitos humanos e os jornalistas devem comprometer-se nesta luta, independentemente da sua religião, cor de pele e raça, lutando para preservar a integridade física.
Apesar de todo o trabalho sobre as consequências nefastas desta prática e medidas legislativas adotadas, infelizmente a MGF continua e no mês de junho último, o comité nacional contra a prática denunciou mais vítimas de mutilação genital na vila de Ingoré, norte da Guiné-Bissau.
Confrontado com a situação pelo Democrata, Baldé diz que o Comité Nacional para Abandono das Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher não vai resignar-se contra esta prática, porque é uma luta para a promoção de saúde, da igualdade e dignidade dos seres humanos no país.
“Enquanto a entidade que coordena esta política para pôr fim a esta prática nefasta, o comité, com os seus parceiros não vai baixar os braços e vai continuar a fazer o trabalho necessário, com vista a uma verdadeira mudança de hábitos e comportamentos neste sentido”, vincou Baldé.
Em 2011, as autoridades guineenses aprovaram uma lei que criminaliza a mutilação genital feminina, mas até agora nota-se uma fraca intervenção no sentido de cumprimento integral do documento ou da implementação da lei pelas autoridades competentes, dado que foi aprovada no parlamento da Guiné-Bissau, fato que tem permitido que os infratores continuem a prática de forma clandestina.
Perante este cenário, Baldé afirma que a lentidão no cumprimento da lei não desencoraja o comité na sua luta, porque a organização faz parte das estruturas que promovem o diálogo de base para permitir que a Guiné-Bissau tenha uma lei neste sentido. Baldé fez lembrar que tal lei tem três componentes: preventivo, combate e criminalização.
Questionado se a Mutilação Genital Feminina tem ligação com os aspetos religiosos, em particular o islão, o responsável nega esta possibilidade, “porque houve comprometimento dos responsáveis religiosos antes da aprovação da lei”.
Um estudo da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), publicado em 2018, apontava que cerca de 44% das mulheres guineenses entre 15 e os 49 anos de idade são vítimas da Mutilação Genital, das quais, 29,6% são meninas que têm até 14 anos de idade.
De referir que o seminário organizado durante dois dias pelo Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) permitiu também cerca de 22 jornalistas debruçarem-se sobre o impacto da covid-19, papel dos jornalistas na prevenção de casos de VBG e MGF e a contribuição dos jornalistas para apoiar o combate às práticas nefastas.
Além dos jornalistas dos principais órgãos de comunicação social de Bissau, estiveram presentes jornalistas dos órgãos das rádios comunitárias de diferentes regiões.
Por: Alison Cabral
Foto: A.C



















