A lala está a arder. O fogo a fustigar as pessoas. Os cidadaos a fugirem para a cidade grande. Outros para as grandes metrópoles espalhadas pelo mundo. Outros ainda, a correr, de uma lado para o outro, sem dó, nem o nó, que dê para desatar a corda que amarra os pés. Os dois, é claro.
E, assim, exaustos, todos os cidadãos estão agora a sentir o cheiro nauseabundo que, quer queiramos, quer não queiramos, gostávamos de ter provado deste fel, que, há muito, se parecia com o mel.
Engano?
Uns reagem aos dramalhões. Mas estes são ainda o que eram? Quem, se calhar, e se possível, se propuser a entrar neste concerto dissonante, escutará ela|ele a boa música? ? será esta música antissentimental demais para o bom gosto dos amantes, e ao mesmo tempo, os apaixonados pela música de alta qualidade estética? E sonora?
Pois, então, a alta cultura apequenou-se. Parece-me que os nossos sonhos e as nossas vidas estão em xeque.
Xeque-mate?
Voltando à lala, a não a queimada, mas sim, a lala-vida, florida, cheia de vivacidade, de fulgor com pendor ao alvor de nova ceifa de arroz.
- O convite
Aí está o convite. O teor: entrada no mundo novo.
E que mundo novo é este? Parece-me a mim ser o mundo do silêncio. Por se tratar, a meu ver, de buscar a fórmula que nos permita a todos encontrarmos uma nova vocação – àquela do encaixe na mesmice e na marmorra do sistema em falência.
É preciso que aprender a viver como surdos; ao mesmo tempo, que recuperemos descobrir a nova linguagem do poder incauto. Afinal, se no começo do concerto apreciávamos a vibração sonora do estilo afro-mandinga, a vertigem do N Gumbé surge-nos como um ruído do silêncio exasperante. Desafiador. E desafinado.
O som está distante do aparelho. Conectem-se. Senão o sermão vai gerar a energia, se calhar esta, está a apagar-se. Não desejo o blackout; e sim, o caos ordenado.
A lala deve ensinar-nos a linguagem dos surdos e mudos. A música, cá de dentro, e a de lá fora, a sinfonia da vida para, de seguida, elucidar a própria mise en scène dos protagonistas do hic et nunc da realpolitik nacional.
O país? Um ator a representar-se como um ator sufocado pela densidade do papel de persongem encarnado, fugaz e futilmente, com uma autoridade interpretativa questionável.
Por isso, o centro de aprendizagem carece de mestres para fazer, ainda que no papel secundário, uma interpretaçao sólida e irrepreensível.
- Ode à paz interior
Há ali, no meio do nada, no vazio preenchido, um objeto singular – o poder – cujo defensor está praticamente afastado do lugar que, raramente concebia ver-se afastado, em tão tenro namoro urdido nas trevas do silêncio.
O homem de cá está vestido de camisas de cores claras; pois de claras, suas intenções malfeitoras estão cheias. Tão cheias que o Chefe quer espraiar-se, pois a hora das anedotas havia chegado. Aliás, de troça em troça, estamos todos aos troços. Aos pedaços.
É aos pedaços é que vamos.
O homem de lá, forasteiro ou foragido?
Não vigiou suficientemente a plantação do arroz na lala, e acabou por queimar-se, sem que o arroz tivesse sido colhido na sua plenitude; porque este comido pelos passarinhos, e outras aves de rapinas; além de outros animais silvestres, deram cabo da réstia. Réstia esta, há muito desejada, por seus parentes que, viam nele, uma ameaça ao Clube do eu-sozinho.
Assim, uma razão central para a mudança é que, conforme nosso Sol de Bissau envelhece, ele se torna mais quente, áspero, fustigante; porém libera mais energia vital que deve ser sorvida ao máximo prazer possível. Assim sendo, é de se calcular que se atmosfera bissau-guineense absorve o calor, vai depois decompô-la. Como? Não o sei dizer.
Nem por isso, portanto, a nossa vida neste chão sagrado deixará de existir, assim como a vida aquática, encherá os nossos pulmões de oxigénio, elevando os oceanos a altos níveis de luz ultravioleta e calor do Sol escaldante.
Confinar é preciso. Fá-lo|a, caro|a leitor|a de O Democrata, que salvar-te-ás do Covid-19.
Bissau, 03 março de 2021.
Por: Jorge Otinta