Pedro Cabral: “AGRICE É UM MEIO DE ASCENSÃO E SUPERAÇÃO DA DEFICIÊNCIA QUE ADQUIRIMOS”

[ENTREVISTA_agosto 2021] O presidente da Associação Guineense de Reabilitação e da Integração dos Cegos (AGRICE), Pedro Cabral, afirmou que a escola para os cegos é um meio de ascensão e superação da deficiência.

“Quando temos meios materiais para aprender, sentimos que  a deficiência está absolutamente superada, mas quando não temos condições não conseguimos superá-la e frequentemente isso constitui mais deficiência  para além daquilo que a natureza nos impôs”.

O presidente da AGRICE disse, na entrevista ao jornal O Democrata no passado dia 4 de setembro, que o fato de uma pessoa perder parte das suas capacidades neste caso, a deficiência visual não significa, que seja menos útil.

PRESIDENTE AGRICE: “É URGENTE E IMPERIOSO A  REABILITAÇÃO  DA ESCOLA BENGALA BRANCA”

“A deficiência visual não é sinónimo da incapacidade, mas quando somos discriminados  na sociedade não nos restam dúvidas que somos mal interpretados”, salientou.

Pedro Cabral fez essa observação depois de ter recebido apoio em  géneros alimentícios da Fundação do Grupo NSIA à escola “Bengala Branca” em Bissaquel,  setor de Safim, região de Biombo. Pedro Cabral disse que a sua equipa decidiu criar a  escola “Bengala Branca”, que funciona há 18 anos, para participar na componente da integração e reabilitação  de cegos.

“Temos um lar em Contum Madina, de onde as crianças saem para frequentar a escola em Bissaquel para aprender como as outras, através da metodologia específica atendendo às nossas particularidades. As nossas duas viaturas, neste caso autocarros, não estão minimamente em condições para transportar essas crianças todos os dias para escola”, sublinhou.

Frisou que, apesar de a sua organização ter solicitado apoios de parceiros, não teve nenhuma atenção e criticou o governo pelo fato de não ter dado atenção à organização.

“O governo guineense é responsável pela  política de inclusão social, independentemente do estado social ou físico do cidadão. Por que razão não tem dado mínima atenção para evitar a perda de vidas derivadas da frustração, ao tratamento desigual e de atuação  contra alguns princípios que protegem os deficientes visuais”, notou.

Pedro Cabral lançou desafio a toda a sociedade guineense, sobretudo aos políticos e governantes de que “é urgente e imperioso” ajudar  a organização na  reabilitação  da escola “Bengala Branca”,  que está degradada e para que possa adquirir meios de transporte para as crianças, caso  contrário ameaça promover um ciclo de reivindicações para exigir do governo os seus direitos e mostrá-lo que merecem ser tratados de igual maneira  e que gozam do mesmo  direito como qualquer ser humano.

“Compreendemos que a pluralidade dos homens na terra é com vista a servir uns aos outros, de maneira que esse apoio da Fundação do Grupo NSIA veio confirmar em como está integradamente a participar naquilo que é essência de se solidarizar com aqueles que, de certa forma, estão a precisar. A AGRICE é uma organização sem fins lucrativos e que está a trabalhar afincadamente no sentido de melhorar a vida das pessoas com deficiência visual”, salientou.

Os dados avançados pelo presidente da AGRICE,    indicam que a escola de cegos tem 3 lares de acolhimento nomeadamente, em Bissau, em Bissaquel e em Gabu e acolhem no regime interno 120 pessoas com deficiência, entre adultos e crianças.

Nos 3 lares, a organização cuida da alimentação, educação, saúde e vestuários, no entanto, não tem nenhuma fonte de rendimento capaz de sustentar essas despesas, por isso, recorre aos parceiros  para poder garantir o mínimo necessário para os que não tem privilégio.

Pedro Cabral lamentou que a AGRICE tenha funcionado com dificuldades incluindo a falta de comida para as crianças que estão no lar de acolhimento, cuja  grande parte delas veio das regiões.

“Compreendemos que o pensamento sócio antropológico não dá valor mínimo a pessoa com deficiência visual, uma situação que tem afetado muitas pessoas  ao ponto de algumas  desistirem da vida”, lamentou.

“A nível familiar, temos uma desatenção e ninguém cuida de nós e somos achados menos importantes e inúteis. Perante estes fatos, concluímos que nunca a sociedade dará a mínima atenção às pessoas com deficiência”, disse.

Pedro Cabral defendeu que é importante que a sociedade guineense, no seu todo, comece a despertar a consciência que a utilidade do homem deve ser analisada justamente na perspetiva do seu nível de pensamento e da sua capacidade de traduzir esse pensamento na prática em benefício de todos.

Por: Aguinaldo Ampa

Foto: A.A

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