
O Professor Universitário e Especialista em Ciência Política e Relações Internacionais, Abdu Jarju, disse que o chefe de Estado de França, Emmanuel Macron visita a Guiné-Bissau, devido a capa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que o Presidente Umaro Sissoco Embaló carrega neste momento, tendo assegurado que o chefe de Estado guineense deve aproveitar a visita para apresentar a agenda nacional ao seu homólogo francês e não só, como também “tirar o máximo proveito para o benefício dos guineenses e dar credibilidade ao país e fazer as pessoas acreditar que existe estabilidade interna”.
O professor universitário nas Universidades Colinas de Boé e Jean Piaget assegurou que é possível as autoridades guineenses tirarem maiores ganhos possíveis com a visita de Presidente Macron, porque “a política internacional é um negócio e o qual o chefe de Estado guineense pode utilizar capa da CEDEAO, apresentar projetos concretos ao Presidente da França, porque é um negócio de “ganhar e ganhar” em que cada parte defende os seus interesses”.
MACRON QUER RELANÇAR A HEGEMONIA DA FRANÇA COM A VISITA A TRÊS PAÍSES AFRICANOS
“A França, na verdade quer algum apoio da Guiné-Bissau que preside a CEDEAO neste momento e é por isso que o país deve infiltrar a sua agenda nacional, mas isso depende da capacidade do país em termos de negócio e saber quais são as prioridades para pôr na agenda”, explicou o antigo Embaixador da Gâmbia para a Guiné-Bissau, Guiné-Conacri e Cabo Verde, durante uma entrevista ao Jornal O Democrata para falar das vantagens da visita do Presidente da França, Emmanuel Macron, à Guiné-Bissau no próximo dia 28 de julho, bem como saber como é que as autoridades podem aproveitar esta visita para apresentar a agenda nacional.
Abdu Jarju assegurou primeiramente que é preciso entender “muito bem” em que contexto económico e geopolítico é que se insere a visita, tendo afirmado que a França perdeu uma certa credibilidade atualmente na África e que está a ser confrontada com vários problemas.
“Hoje vários panafricanistas e ativistas estão a reclamar a saída dos seus países na moeda franco CFA como também contestam a política “França-África”, razão pela qual é preciso entender e contextualizar essa visita. Essa deslocação de Macron a três países africanos incluindo a Guiné-Bissau, não é uma visita na verdade que vai beneficiar os países africanos, mas sim a agenda do Presidente Emmanuel Macron vai ser defender os interesses da França” contou, para de seguida avançar que Macron fará de tudo nesta sua deslocação para resolver o problema do Mali, como também procurar recursos africanos para solucionar as dificuldades que a França enfrenta internamente.
Lembrou que o Presidente Francês esteve à frente da União Europeia durante seis meses, ou seja, de janeiro a junho, mas frisou que Macron não obteve excelentes resultados na liderança da União Europeia. Recordou neste particular que no período do mandato de Presidente Macron à frente da União Europeia, não conseguiu evitar a guerra na Europa, a invasão da Rússia à Ucrânia.
“A nível interno houve uma crise e perdeu o parlamento francês, apesar de ter sido reeleito para o segundo mandato. Assistiu-se à expulsão dos militares franceses e diplomatas europeus do Mali. O gás, combustível ou outros recursos provenientes do petróleo subiram de preço, portanto isso tudo é a situação que a França está a enfrentar atualmente incluindo a luta de ativistas africanos contra a política da França-África”, notou.
O antigo diplomata disse que no contexto específico da Guiné-Bissau, a visita é de celebrar dado que é a primeira vez que a Guiné-Bissau recebe a visita de chefe de Estado de um país gigante no mundo e com o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Acrescentou que na verdade é bom realçar a visita neste neste contexto e a diplomacia guineense, particularmente os esforços do chefe de Estado Umaro Sissoco Embaló.
Jarju enfatizou que atualmente a Guiné-Bissau dirige a conferência dos Chefes de Estado e do Governo da CEDEAO, a organização sub-regional que aplicou sanções contra o Mali, Guiné-Conacri e Burkina Faso de certa medida em graus diferentes.
“Não podemos descartar a possibilidade do facto que talvez o Presidente Macron querer aproveitar a presidência da Guiné-Bissau na CEDEAO para conseguir, mais uma vez, certa influência naquela organização e inteirar-se de tudo o que acontece a nível da sub-região” referiu, reconhecendo que na verdade o Presidente Embaló goza de certa influência na sub-região que lhe permitiu ganhar a presidência da CEDEAO.
“A visita do Presidente Francês num país como a Guiné-Bissau que tem problemas internos não resolvidos, refiro-me à dissolução do parlamento que é um assunto que será objeto de crítica dos democratas e de muitos ativistas, porque a França não tem política de dois pesos e uma medida. Isso reforça a ideia dos críticos que a França deixou de interessar ou defender os valores da democracia, mas está apenas para defender os interesses dos franceses”, criticou.
O especialista afirmou que não há um setor prioritário na Guiné-Bissau hoje, mas deve haver uma gestão prioritária de todos os setores, “porque todos os setores estão mal neste país e a começar pela educação, saúde, agricultura e entre outras, de maneira que se conseguir o dinheiro ou algum acordo nesta visita é preciso selecionar as pessoas com capacidade para dirigir os setores beneficiários”.
“A Guiné-Bissau pode aproveitar esta visita no máximo. Neste momento temos a capa da CEDEAO e podemos usá-la muito bem, porque graças a essa capa é que Emmanuel Macron está a visitar o país e devemos aproveitar essa oportunidade para empurrar a nossa agenda nacional” alertou, avançando que tudo dependerá da inteligência e da capacidade de negociação das autoridades guineenses em saber definir as prioridades que devem colocar na mesa.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: Marcelo Na Ritche