[ENTREVISTA_outubro_2022] O presidente do Instituto de Pesquisa Agrária, João Aruth, defendeu que é urgente dinamizar a pesquisa agrária na Guiné-Bissau, investir seriamente no setor da agricultura e aproveitar as potencialidades de que o país dispõe.
Defendeu igualmente que é preciso que o governo investa na compra de equipamentos agrícolas, na formação de técnicos nacionais e que coloque à disposição do INPA meios materiais e financeiros para que possa funcionar eficazmente.
“Existem bons agrónomos que devem ser motivados em termos financeiros e dotados de materiais de trabalho para que possam demonstrar o que sabem no terreno” afirmou, revelando que devido à falta de pagamento das quotas, a Guiné-Bissau deixou de beneficiar de apoios financeiros do projeto África Rice, uma organização que funciona como um centro de pesquisa em agricultura.
ALGUMAS BOLANHAS DE MANSOA E DO SUL DO PAÍS APRESENTAM SINAIS DE RISCO
A posição do presidente do INPA foi defendida na entrevista ao jornal O Democrata para falar da previsão agrícola e medidas preventivas que devem ser tomadas para evitar inundações que ocorrem nas bolanhas. Segundo João Aruth, o INPA recebia por transferência, um bolo anual que era orçado pelo governo, sem avançar permenores sobre o valor em concreto, que o permitia ser mais dinâmico e os técnicos trabalhavam a valer.
“De três em três meses, a direção levantava um montante com justificativos sobre a utilização dos fundos. Neste momento, apenas recebemos salários, conforme definido pela função pública”, lamentou.
João Aruth disse que a previsão feita pelo Instituto Nacional de Pesquisa Agrária (INPA) para este ano agrícola não é uniformizada, porque há inundações nalgumas zonas e os agricultores não conseguiram drenar a água para permitir que o arroz crescesse, mas admitiu que nas zonas onde existem condições de drenar a água, existe a possibilidade de o arroz crescer saudavelmente.
Assegurou que a chuva que tem caído nos últimos tempos vai ajudar o arroz a crescer nas zonas onde não há inundações, apontando a zona sul e algumas localidades de Mansoa (Uaque, Cussentche, Braia e Mantefani) como zonas de risco.
Segundo João Aruth, uma das causas das inundações tem a ver com a desmatação dos mangais (cultos tarrafes) no norte do país e nalgumas zonas da Guiné-Bissau.
“O cultivo do arroz e da plantação de pomares de cajú sem proteção adequada, quando chove, a água pluvial arrasta muita a areia para o mar e fecha os canais de drenagem”, salientou e acrescentou que uma das medidas para acabar com as inundações nas bolanhas será realizar um trabalho específico, envolvendo elementos da engenharia rural com meios específicos, bem como proteger os tarrafes.
“O governo deve apoiar o ministério da Agricultura para poder fazer face a esses desafios. Sem tarrafes, nem canais, vamos continuar a ter sempre bolanhas inundadas. Os elementos da engenharia rural são os únicos que podem ajudar na resolução desse problema, mas precisam de meios materiais e dinheiro, sobretudo a vontade política para poder trabalhar com eficácia”, frisou.
João Aruth disse que neste momento, o INPA está a trabalhar com o projeto PACVEAR do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que intervém no Leste (Contuboel), no Norte e no Sul da Guiné-Bissau, tendo sublinhado que um dos desafios do INPA é melhorar os perímetros, através de um sistema de irrigação eficaz, a construção em betão de canais cobertos e o nivelamento normal das parcelas, para facilitar a irrigação e a gestão da água.
Indicou que no sul do país, na localidade de Cabuxanque, o INPA tem bolanhas de mangrove e pretende implementar novo sistema de cultivo, sem usar arado, para aumentar a produção e explorar, a cem por cento, as bolanhas.
De acordo com o presidente do INPA, a Guiné-Bissau deixou de beneficiar de apoios financeiros do projeto África Rice, uma organização que funciona como centro de pesquisa em agricultura, porque não paga as quotas.
“A África Rice já não financia projetos para a Guiné-Bissau, porque não pagamos as quotas. É importante que o país comece a cumprir as suas obrigações para assegurar as organizações que ajudou a criar”, sublinhou.
Questionado se o assunto é do conhecimento das autoridades, João Aruth afirmou que o INPA nunca assumiu compromissos com a África Rice, mas sim o governo, lembrando que a organização deixou de financiar projetos para a Guiné-Bissau desde 2018.
O presidente do INPA informou que, neste momento, a sua instituição apenas funciona com os projetos do ministério e em função das diretrizes de cada, tendo revelado que o INPA tem neste momento quatro centros, dos quais um de produção de animais em Bissorã e em Contuboel, para a produção de cereais. Contudo, defendeu que é preciso apostar na formação de recursos humanos para fazer face aos desafios que se impõem.
“Neste momento temos, no edifício principal do INPA, 11 funcionários, dos quais três em idade de reforma. Em Bissorã, por exemplo, 7, quatro estão no processo de reforma. Contuboel 14 dos quais 7 em idade de reforma. Na cidade de Quebo 9, sendo 4 em idade de reforma e no Cabuxanque temos 8, dos quais 4 estão no processo de reforma”, notou.
João Aruth afirmou que o centro tem um número suficiente de estagiários para cobrir eventuais vagas, mas o problema reside na falta de meios e combustível para deslocá-los para o terreno.
Por: Filomeno Sambú



















