
A diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) para a África Ocidental e Central, Argentina Matavel, disse estar muito preocupada com o elevado nível de mortalidade materna na Guiné-Bissau.
“Estamos a notar que a Guiné, infelizmente continua com níveis muito elevados de mortalidade materna. Os últimos relatórios publicados na semana passada por três agências das Nações Unidas, FNUAP, a OMS e UNICEF, mostram que a Guiné-Bissau ainda, infelizmente, tem um índice de mais de 900 mortes, uma taxa medida sobre cada cem mil nados vivos”, afirmou aquela responsável na conferência de imprensa realizada na tarde de segunda-feira, 06 de março de 2023, para falar da sua visita ao país e dos encontros mantidos com as autoridades nacionais.
Matavel assegurou que a situação de mortalidade materna é muito mais preocupante nas regiões do país, acrescentando que há regiões onde se registam três mil mortes sobre cem mil nados vivos.
“Esses números já não se registam em quase nenhuma parte do mundo. Isto é preocupante, porém não é só a Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau está entre os países que têm uma mortalidade materna muito elevada no mundo. Temos na nossa região, o Tchade, a Serra Leoa, o norte da Nigéria. Mas aqui o número de três mil é o mais elevado que nós já vimos nesta parte da África” disse, justificando a necessidade de vir a Guiné-Bissau para se reunir com as autoridades nacionais a começar pelo Primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabian e o ministro da Saúde Pública, Dioniso Cumba.
“Enquanto estou preocupada com estes números por um lado, por outro, estou encorajada porque vi que os dirigentes mostram que eles também estão preocupados com estes elevados números de mortalidade materna. O que é que se pode fazer? Temos estes números. Há vontade política, vontade dos parceiros para ajudar a ultrapassar a situação e o que se pode fazer de concreto?” questionou, acrescentando que há duas coisas ou três que podem ajudar o país a acelerar para pôr cobro à situação de mortalidade materna, que são apoiar o centro de formação de parteiras e dotá-las dos conhecimentos técnicos em conformidade com as normas internacionais.
Explicou ainda que outro aspeto importante para a redução da mortalidade materna é o planeamento familiar, tendo destacado a utilização dos métodos modernos de contraceção, para de seguida afirmar que estes números são muito baixos na Guiné-Bissau, correspondendo a 21 por cento.
Lembrou que há um país pobre da Ásia do Sul que tem um sistema de planeamento familiar muito eficiente na ordem de 65 por cento, que conseguiu, por esta via, reduzir a mortalidade materna.
“É simples, quando a mulher não está grávida, ela não vai morrer de casos de gravidez. A utilização do método moderno de planeamento familiar permite que a rapariga que ainda esteja na escola, que já namora ou vive com alguém, possa atrasar e esperar até acabar os estudos para depois ter filhos. Permite também a mulher que acabou de se casar esperar dois anos até se organizar”, contou.
A diretora regional do FNUAP disse que o terceiro aspeto para a redução da mortalidade materna são os cuidados obstétricos de urgência.
“O que eu quero dizer é que, pelo menos os quinze por cento de todas as mulheres que ficam grávidas num certo momento, vão ter alguma complicação, o que não depende de ninguém. É um fator natural ou a criança não está na posição em que devia estar ou por que tem uma hemorragia, são as tais urgência que podem acontecer quando a mulher está grávida. A OMS estima que pelo menos 15 por cento das mulheres grávidas vão precisar de cuidados obstétricos de urgência”, assegurou, afirmando que é preciso que haja centros com recursos humanos, equipamentos necessários e medicamentos para responder a essas urgências.
Por: Assana Sambú