Reação do PAIGC: DOMINGOS SIMÕES PEREIRA REPUDIA ATUAÇÃO DAS FORÇAS DA ORDEM E APELA AO CUMPRIMENTO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS

O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo verde, Domingos Simões Pereira, repudiou este sábado, 20 de setembro de 2025, a atuação das forças de segurança na sua receção na sexta-feira, contra os cidadãos em pleno gozo do seu exercício político e de cidadania e exigiu um tratamento igual para todos atores políticos, porque “não pode haver tapetes vermelhos para uns e gás lacrimogénio para outros”.

“Não se pode descurar por cinco anos por de trás de uma pertença legitimidade que Umaro Sissoco Embaló usou e abusou das suas prerrogativas constitucionais. O seu mandato terminou. Estamos na preparação de umas eleições legislativas e presidenciais, todos os atores políticos têm que ser tratados como iguais. Não pode haver tapetes vermelhos para uns e gás lacrimogénio para outros”, criticou. 

O presidente do PAIGC disse estar disposto, ele e o partido que lidera, bem como a coligação PAI Terra Ranka, mas alertou que as forças de segurança não podem, circunstancialmente, se colocar como militantes de um partido político.

“Quem não vê como Botche Candé e outros membros do governo ou do regime são recebidos e escoltados? O que é que nós fizemos para merecer o tratamento de ontem? Que distúrbio estava acontecer que mereceria fazer disparos ao ar e lançar granadas de gás lacrimogénio”, deixou uma série de questões, para de seguida alertar que se as forças de segurança continuarem a ser hostis ao PAIGC serão obrigados a pedir ao povo para se juntar ao partido e a reagir contra eles, pois o PAIGC não está mais em condições de admitir que ações dessa natureza voltem a acontecer.

Domingos Simões Pereira disse que voltou enquanto cidadão guineense e político e que o seu espaço natural não poderia ter sido outro lugar “é aqui”.

Num encontro com a imprensa antes de se dirigir à reunião do Comité Central do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o líder da PAI-Terra Ranka lembrou que saiu de Bissau não por vontade própria, foi quando sentiu que não tinha condições de continuar a trabalhar por cá, sendo isso para ele um imperativo, decidiu deixar o país.

A reunião do Comité Central deverá, supostamente, centrar-se na escolha do candidato do PAIGC que, provavelmente, será apresentado à Coligação Plataforma Aliança Inclusiva- PAI Terra Ranka, para as próximas eleições presidenciais de 23 de novembro deste ano.

Aos jornalistas, Domingos Simões Pereira assegurou: ”vou agora informar aos membros do Comité Central que os nove meses que passei fora, foram nove meses a trabalhar, não a passear ou a descansar-me, não.

“Trabalhei com a comunidade guineense na diáspora, comunidade internacional, representei o PAIGC, a nossa Coligação PAI Terra Ranka e a Assembleia Nacional Popular em vários Fóruns Internacionais e agora, com o calendário político estabelecido, sinto-me que regressei ao país”, frisou.

O líder do PAIGC assegurou que se receber o aval da maioria dos membros do Comité Central do partido, está preparado para representá-lo e liderar a vitória do partido, quer nas legislativas, quer nas presidenciais.

Questionado se está confiante que será a figura a ser escolhida para liderar o partido e a Coligação, disse que tem de estar confiante por ser presidente do PAIGC, figura que tem desenvolvido um trabalho de gestão colegial, em que todos os assuntos são tratados nos órgãos superiores do partido.

Domingos Simões Pereira disse ter sinais, quer do presídio, do secretariado e dos presidentes das comissões regionais que vão no sentido de um alinhamento perfeito para que se crie sinergias necessárias para a convocação do povo, porque “ tudo aquilo que fazemos ao nível dos partidos é apenas uma preparação”.

Para o presidente dos libertadores, o verdadeiro desafio político é a adesão popular e disse não ter dúvidas de que todos estão convencidos que a sua candidatura reúne as condições e um certo consenso alargado para a sua apresentação.         

De forma irónica, Domingos Simões Pereira deixou parecer que as infraestruturas que o regime disse estar a construir terão reflexos na vida da população no futuro, porque não se sabe quantos recursos naturais do país já foram entregues em detrimento dessas infraestruturas em construção ou que já foram construídas, em quantos anos é que o Aeroporto será entregue a terceiros para ser explorado antes de beneficiar o Estado da Guiné-Bissau e o povo.

Disse que um dos trabalhos “mais profundos” do seu governo foi ter libertado o país de alguns contratos de concessão assinados por vinte anos, e “ agora ouve-se falar de contratos de concessão que podem durar até 40 anos”.

“Estamos a falar de gerações. Vamos ter umas infraestruturas em nosso próprio solo, mas não nos , quer dizer mais de uma geração. Não só ter comprometido toda essa nossa geração, já está a tomar decisões para comprometer as gerações futuras”, detalhou.

Relativamente ao regime, o presidente do PAIGC e da PAI Terra Ranka criticou, sem rodeios, a falta de liberdade e da justiça, por ninguém se sentir livre de poder sonhar e ter um futuro no presente, razão pela qual decidiu regressar ao país para liderar essa luta, convocar o povo para resgatar o poder e devolver aos guineenses a dignidade que realmente merecem.

Apesar de ter admitido que voltou com um sentimento do dever cumprido, de sentir que ainda é útil ao povo pela moldura o que o recebeu em meio muita confusão e a própria condição climatérica, sentiu alguma frustração porque em pouco espaço de interacção como a população percebeu as questões que eram colocadas, agora o ambiente é outro.

“Primeiro, a narrativa era falta de escola, impossibilidade fazer transferências para os filhos, evacuação de doentes, bolsas de estudo. Hoje, fala-se de fome, de enfrentar o dia seguinte e futuro… Tudo isso é comovente. Essa mistura toda é um momento de sentimentos e um dos meus maiores sonhos, devolver ao povo a dignidade”, afirmou.  

 

Por: Filomeno Sambú

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