PRESIDENTE DE ISPRI APELA À INTERVENÇÃO DOS LÍDERES RELIGIOSOS PARA ATENUAR DISCURSOS DE ÓDIO NO PAÍS

O presidente do Instituto de Segurança Política e Relações Internacionais (ISPRI), António Nhaga, apela à intervenção dos líderes religiosos para atenuar discursos de ódio e tribais, durante a campanha eleitoral e alerta para possíveis “Akazus Ruandês” na Guiné-Bissau.

António Nhaga, que falava esta terça-feira, 11 de novembro de 2025, em conferência de imprensa sobre os riscos iminentes e o papel da sociedade civil e religiosa na transparência do processo eleitoral no país, disse acreditar que ainda é possível atenuar esses tipos de discursos, se os líderes e a sociedade civil reagirem agora.

Embora reconheça que esteja avançado o nível de discursos nestas eleições, Nhaga defendeu que é urgente minimizar os efeitos antes que se transformem “num barril de pólvora”.

No encontro, foi divulgado também um estudo de seis meses realizado pela organização sobre a atual situação política da Guiné-Bissau.

O trabalho apresentando resultou de um inquérito feito através de uma escuta ativa, alusivo a este processo eleitoral das eleições gerais de 23 de novembro, onde foram auscultados os partidos políticos com assentos parlamentar, coligações eleitorais e candidatos às eleições gerais.

O inquérito foi realizado, em Bissau, de maio a setembro de 2024, através de em estudo qualitativo, diversificado com 12 dirigentes dos partidos com menor representação parlamentar e 20 dirigentes políticos dos maiores partidos com assento parlamentar.

O estudo feito por ISPRI demonstra que há existência de ‶AKAZUS ruandês”, em todos os partidos políticos nacionais com assento parlamentar.

“Por isso hoje temos várias tensões étnicas e tribais no país e em todos os principais partidos políticos com assento parlamentar”, afirmou António Nhaga.

De acordo com o documento, a Guiné-Bissau está a transformar-se nos olhos dos atores da sociedade civil e religiosas numa espécie de um “barril de pólvora”, que um dia poderá deflagrar com as consequências imprevisíveis, se os atores da sociedade civil e religiosos não procurarem encontrar soluções a tempo “poderá ser um genocídio pior que o do Ruanda”.

Segundo António Nhaga, na Guiné-Bissau ainda não existem líderes precursores da democracia nem interessados em implementar e seguir os princípios básicos da democracia multipartidária “na nossa esfera política nacional”, razão pela qual “não há uma verdadeira promoção da democracia multipartidária e do estado do direito democrático”.

O instrumento apontou que nos grandes partidos políticos não há ainda um diálogo e uma convivência democrática com a participação de todos os dirigentes e que os discursos dos dirigentes políticos provam que não existe hoje nos partidos políticos um imaginário de conflito saudável de ideias democráticas. 

”Já vimos o descontentamento da etnia Balanta, alegando perseguições e mortes. E de igual modo acompanhamos o presidente da República cessante e candidato à Presidência, Umaro Sissoco Embaló a dizer que uma etnia tem ódio da outra, porque essa matou alguém da sua etnia, assim sucessivamente”, indicou.

Perante esta situação, admitiu que “o país este dividido nesse momento entre o Presidente da República cessante, Umaro Sissoco Embaló e o Candidato Independente à Presidência Fernando Dias da Costa” e afirmou a única entidade que pode intervir para abrandar essa situação é a sociedade civil e as entidades religiosas, porque “todos dão ouvidos para esses líderes religiosos”. 

Finalmente, apelou aos partidos políticos a deixarem de fomentar a divisão étnica e religiosa nas formações políticas, uma vez que desempenham um papel fundamental na democracia e disse que o estudo não foi tornado público antes para evitar ”o efeito bumerangue”.

Por: Jacimira Segunda Sia

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