A Câmara Municipal de Bissau (CMB) “intoxica” moradores de Bairro de Antula (periferias da cidade de Bissau) com lixos químicos, hospitalares e radioactivos que são deitados todos os dias no vazador de Lixo, situada no referido bairro. Os moradores do Bairro de Antula manifestaram seus descontentamentos sobre a situação a nossa equipa de reportagem, onde afirmaram que são expostos a intoxicação com todos tipos de lixos desde, químicos, hospitalar e radiactivos.
A vazadora de Antula é um lugar com mais de 15 anos e tem servido como “cimenteiro” de lixos produzidos na Cidade de Bissau. O lixo amontoado naquele local tem mais de cinco metros de altura e ao mesmo tempo está espalhado no chão de uma forma desorganizada, por causa das pessoas que lá vão em busca de produtos considerados “normal para o consumo” enquanto outros procuram esses produtos para os seus animais, como porco e cabras. Mas há aqueles que procuram estes produtos alimentícios, tal como frangos, esparguetes, massa, sardinhas, peixes, arroz, entre outros para os próprios consumos.
Os lixos deitados no vazadouro de Antula se encontram produtos químicos tóxicos, inflamáveis e contém cheiros insuportáveis. Não obstante a ameaça para saúde que os lixos representam, os populares desse bairro “carenciadas” e sobretudo os moradores próximos procuram a todo custo encontrar algos do lixo para levarem para as suas casas.
A nossa reportagem constatou “in louco” um camião da Câmara Municipal de Bissau que estava a vascular lixo, um grupo de pessoas, crianças, mulheres e homens se encontram junto do local a recolher alguns dos produtos vindos no camião e para eles considerados de estado “normal para o consumo”. A maioria dos produtos aproveitados são latarias, frangos e bebidas, bem como restos da comida estragada para os animais (porcos).
MORADORES CONSIDERAM VAZADOURA DE LIXO DE UM PERIGO A SAÚDE
Ouvido o porta-voz da Associação de Jovens Dinâmicos de Djogoró, Teófilo Binam, considera numa entrevista a nossa reportagem que o vazadouro de lixo de Antula constituiu um perigo a saúde dos moradores daquele bairro, sobretudo para as pessoas que frequentam o local onde recolhem todo o tipo produtos ali atirados e que consideram aproveitável para os seus consumos. Acrescentou ainda que no vazadouro se encontra todos os tipos de produtos, desde químicos, hospitalares e radiactivos que de acordo com ele, são extremamente perigoso para a saúde das populações.
Teófilo Binam lembrou na entrevista que há mais de 15 anos que a Câmara Municipal de Bissau escolheu aquele espaço para deitar lixos, acrescentando ainda que naquela altura não havia casas próximo do local, mas actualmente as pessoas moram até alguns metros do local onde se deita lixos.
“Hoje em dia as casas com o vazadouro tem mais ou menos quinze metros de distância e faz com que alguns moradores nomeadamente adultos e crianças passem o dia inteiro a procura de resíduos, ou seja, produtos atirados aí para suas auto-suficiências e também nota- se no local crianças a correr atrás das viaturas que transportam lixos”, explicou.
O porta-voz da Associação de Jovens Dinâmicos de Djogoró assegurou ainda que a sua associação manteve várias vezes encontros com os responsáveis máximos da Câmara Municipal de Bissau para os apresentar as suas preocupações sobre os maus tratamentos que dão ao lixo da parte dos transportadores da mesma e do perigo que representa para os moradores e principalmente os que estão no arredor do vazador.
Teófilo Binam disse no entanto que, a Câmara por sua vez, mostrara a possibilidade de retirar vazadouro do local e que até então não se verificou.
O porta-voz da referida associação explicou que os produtos que se deitam naquele local tem causado muitas vezes mal a saúde dos moradores de Antula, tendo frisado um “exemplo disso é caso de uma criança que chegou a consumir chocolate fora de prazo e começou logo a reagir mal e ele foi levado de imediato para hospital”.
“A nossa associação tem feito várias sensibilizações aos moradores a fim de deixarem as práticas de aproximar do lixo e mostrando-lhes o perigo que representa para suas vidas, mesmo assim alguns nos disseram que nunca vão deixar a tal prática porque daí que é sai o seu ganha-pão para suas sobrevivências”, notou.
Este responsável advertiu que é urgente a mudança de vazador para um outro local mais distante da população para evitar o contacto das pessoas com o lixo. Portanto, apelou ainda a Câmara Municipal no sentido de esforçar no máximo no sentido de começar a incinerar os lixos, porque conforme disse “só assim de facto é que se pode evitar que as pessoas aproveitem os produtos tirados no lixo para o consumo”.
Lembrou neste particular que o ex-presidente da Câmara Municipal Artur Sanhá tinha mostrado a possibilidade de transferir vazador para zona da Cumura (Sector de Prábis, Região de Biombo – arredores de Bissau). Sustentou que no momento conseguiram sentar-se a mesma mesa com o antigo edil de Bissau, no qual manifestaram o inconformismo dos moradores e o perigo a saúde que o lixo representava para as pessoas daquela zona.
“Fala-se neste momento da epidemia do vírus ébola e o pessoal da Câmara continuaram a deixar lixos ao alcance das populações, então não vale a pena continuarmos a falar das prevenções”, referiu o jovem.
Apelou os moradores mais próximos do local no sentido de aconselharem os seus educandos a deixarem de frequentar o vazador de lixo, porque de acordo com ele, os produtos aproveitados no lixo não lhes ajudarão em nada e a não ser prejudicar as suas vidas e dos seus familiares.
Um outro apelo foi lançado à Camará Municipal para que coloque segurança no local a fim de impedir as pessoas que entrem em contacto com o lixo, bem como aproveitar os mesmos para os seus consumos.
ANÓNIMO: “APROVEITO LIXO PARA CONSUMO E OUTRO PARA REVENDER”
Entretanto, a nossa reportagem encontrou um homem de aparentemente 40 e poucos anos de idade, a recolher alguns produtos no lixo e as garrafas de água para posteriormente vender.
Este homem que pediu anonimato a nossa equipa de reportagem, explicou que há muito tempo que aproveita os produtos deitados no lixo para o seu consumo e outros para revender.
“Não posso deixar esta prática, porque é dali que ganho dinheiro para sustento dos meus filhos e não só, como também aproveito alguns produtos que estão no estado normal para consumo”, confessou.
Instado a pronunciar se não tem noção do perigo que os lixos que recolhe representa para sua saúde, admitiu no entanto que “mesmo sabendo do perigo que representa se não tiver como fazer para sustentar a minha família em vez de roubar, prefiro ficar no vazador para aproveitar alguns produtos para vender e ganhar dinheiro”.
“Não tenho emprego, meu gabinete é este vazador, costumo ficar aqui de manhã as vezes até a noite com todo este cheiro insuportável, porque não há como fazer”, lamenta.
VAZADOR DE ANTULA NÃO DISPÕE DE PADRÃO RECOMENDADA EM TERMOS DE SEGURANÇA PARA SAÚDE
Entretanto, a nossa reportagem contactou o director do Serviço de Doenças Transmissíveis e não Transmissíveis do Ministério da Saúde, para falar dos riscos da doença transmissíveis bem como de outras que os lixos podem causar a população daquela zona, onde se encontra a vazadouro.
Cristóvão Manjuba disse na sua declaração à nossa reportagem que a condição em que se encontra o vazamento do lixo no vazador de Antula, não só deve merecer a preocupação da autoridade camarária e sanitária, mas também deve merecer a preocupação de toda população em geral. Explicou na ocasião que o vazador de lixo do país, particularmente da capital Bissau, não dispõe de padrão recomendada em termos de segurança para saúde pública, tendo acrescentado ainda que existem critérios para a construção e preparação de vazador doméstico ∙
“Num vazador, os lixos devem ser seleccionados em categorias, tratados devidamente e colocadas nos seus respectivos lugares. Infelizmente no nosso país, isso não se verifica, porque as autoridades camarária não tem condições para tal”, salientou∙
Relativamente a categoria de lixos, explicou que existem três tipos de categorias lixos, que são: lixos que provocam radiação, químico e hospitalar, que considera extremamente perigosas à saúde pública.
“Lixo hospitalar como se sabe muitas vezes contém restos de feridas da cirurgia, agulhas e lâminas infectadas, se forem deitados sem desinfecção pode transmitir directamente doença a qualquer pessoa que entrar em contacto com elas. Lixos químicos podem intoxicar e conter outros efeitos prejudiciais a saúde da população, enquanto lixos radioactivos, como se sabe também pode causar problemas de câncer e outros problemas sérios de saúde”, esclareceu o especialista da saúde pública.
O responsável da direcção do Serviço das Doenças Transmissíveis e não Transmissíveis, defendeu durante a entrevista que a população guineense deve ser informada e consciencializada sob a forma de produção, tratamento e conservação de lixos, porque conforme disse, na “Guiné-Bissau as pessoas não têm noção de como os lixos devem ser produzidas e tratadas, facto que motivou aumento excessivo da produção diária de lixos sem respeitar padrões recomendadas para a sua produção”.
Contudo, lamenta a forma como se trata os lixos da parte da população e não só, como também a forma como o próprio agente da câmara municipal lida com os lixos, que segundo ele, não conseguem seleccionar lixos por categorias.
Sustentando neste particular que independente de que no solo existe bactérias e algumas parasitas também é um lugar onde se pode adquirir doenças de lombrigas, ancilóstomas, entre outras doenças que podem ser transmitidas através do solo.
O especialista sustenta ainda que o vazador de lixo de Antula pode ser considerado como uma grande fonte da contaminação e de transmissão de doenças∙
“Muitas pessoas frequentam vazador de Antula por negligência e outros por ignorância de risco de pobreza. As crianças frequentam o referido espaço a procura de alguma coisa para seu consumo sem saber do perigo que aquele lugar pode constituir para sua saúde e alguns adultos também utilizam aquele local por negligência e outros por causa da pobreza a procura de alguma coisa para sua sobrevivência e da sua família”, notou o especialista, que entretanto, recomenda a Câmara Municipal de Bissau no sentido de vedar por completo o espaço de vazador para impedir as pessoas a terem acesso ao lixo.
A nossa reportagem tentou contactar os responsáveis da Câmara Municipal de Bissau, através da direcção do Serviço de Saneamento, a fim de abordar a situação do vazadouro que os moradores de Bairro de Antula, alega que representa um perigo para as suas próprias saúdes. Numa conversa telefónica mantida com o director do Serviço de Saneamento, informou que não pode conceder nenhuma declaração à imprensa, sem uma autorização da direcção superior da câmara.
A nossa equipa de reportagem contactou o departamento da Comunicação Multimédia daquela instituição, mas sem sucesso.
Por: Rafaela Iussufi Quetá



















