O que falhou com o “Homem novo” – ou ele nunca terá nascido? Dentro da bagagem de luta de Amílcar, falava-se da necessidade de criação de um “homem novo”. Ora bem, “Homem novo” não pode ser entendido como um simples “newborn”, uma espécie de recém-nascido, mas sim um homem criado nas condições de liberdade, um ser livre das correntezas de uma cultura inferior, de não civilizado, sem história e sobretudo inviável.
A leitura de “homem novo” precisa transcender o nosso imaginário do homem nascido após a guerra da libertação do jugo colonial português na Guiné e em Cabo Verde. Por isso, faço uma pergunta retórica – onde está o “Homem novo”, ou nunca terá nascido? Para Amílcar Cabral, a independência era algo inevitável, muito embora não ter deixado um código bem preciso para desenvolvimento, mas deixou-nos “o caminho”. Na perspectiva de Amílcar, a educação seria o caminho mais viável e indispensável para emancipação de nossa população, tanto homem como mulher, seria através de conhecimento que iríamos transformar e progredir a economia e dar progresso aos povos na Guine e em Cabo Verde. Podemos interpretar as ideias de Amílcar, casando-as com as suas práticas em vida- criação de destacamento feminina, formação de mulheres para servir o PAIGC e o seu projeto de libertação nacional em quase todas as esferas, antecipou os grandes debates sobre emancipação da mulher em África, aliás do mundo. Com certeza.
O conceito “Homem”, para Cabral, incluía tanto homem e assim como mulher, pois ele mesmo o afirmava – esta luta não terá sentido algum se não for feita levando em consideração a camada dorsal da nossa sociedade, mulher. Agora completando mais um ano após sua morte [20 de janeiro] como estão os ensinamentos de Amílcar entre os guineenses e cabo verdianos principalmente, como andam e o que têm feito os filhos da independência? Aqui recupero uma crítica feita em 2004 pelo sociólogo guineense Carlos Lopes, quando se referia o fato de termos retirado Amílcar do centro dos debates para celebrizá-lo, o que próprio Amilcar não fazia questão.
-As hagiografias ao herói de Guiné e Cabo Verde foram ocupando espaço. Selos, notas bancárias, monumentos, nomes de ruas e empreendimentos, retratos e pôsteres, várias simbologias substituem o conhecimento das ideias, ensinamentos e exemplos de vida. Amílcar Cabral desapareceu do debate político para regressar no culto das celebridades LOPES 2004.
Ele dizia francamente – nem toda gente é do partido, pois muitos estavam apenas na luta para ter ganhado e depois viver como patrões e chefes de Estado. Lamentavelmente Amílcar morreu antes da Aurora, mas não é por isso que devemos deixar de acreditar nos raízes de Amílcar, pois dizia ele, amanhã poderá não houver o partido, mas haverá mil raízes de Cabral. Pois pergunto ao caro leitor, onde está o partido de Cabral? Consegue estabelecer uma relação entre o partido de Amílcar Cabral, Elisé Turpin, Júlio de Almeida, Fernando Fortes e outros com este atual partido? Como apreciaria hoje Amilcar ao ver atual situação de partido, que ele corajosamente criou e defendeu a custa de próprio sangue?
Estaria hoje triste Amílcar, se souber que os colegas de arma hoje fazem e vivem cultura de “matchundade” e heroísmo, algo que repudiou categoricamente, e um dos motivos que forjou congresso de Cassacá. Guiné é dos países que mais sofreu e sofre do heroísmo dos seus libertadores, faz-se uma confusão entre ser combatente da liberdade e o direito natural de governar país. Os grupos que costumam contestar sua liderança dentro de PAIGC, não poupam quem ousar lhes afastar dos novos desafios, de uma nova forma de fazer política, de um “savoir faire” e exigências de século XXI. A verdade é que dos companheiros de Cabral, ninguém fora preparado para governar, e ali que entra o homem novo falhado, Guiné se sucumbiu às mazelas de passado colonial, entre os próprios donos da Independência, hoje criam grupos e facções para valer as suas vontades dentro de partido. Ou seja, para mais uma vez parafrasear Lopes, na Guiné o debate ainda e sobre ajustes de conta, neste caso não há espaço para fazer debate sobre desenvolvimento. Um país que não investe quase nada na educação que recebe financiamento até para beber água, este país não pode pensar em desenvolvimento, seria uma fronte aos países que estão debatendo constantemente sobre modelo de desenvolvimento a seguir.
Apesar de chuva em abundância, sol, mar, peixe, bauxite, fauna e flora somos a menor economia de África. Dizia Amílcar, se nós somos pobre não é porque não temos chuva, sol ou um bom solo para cultivar, mas sim porque precisamos de educação de qualidade para formar quadros entre homens e mulheres capacitados que ocuparão de papel mais complexo de uma nação, o desenvolvimento. Quer dizer, neste caso mais uma vez ele antecipou os discursos de hoje sobre poder transformadora de educação. Pois, Amílcar já pensava numa sociedade possível e estável através da educação inclusive. Criação de escola piloto e pequenas barracas para quem sabe, ensinar quem não sabe, apesar de ser uma exageração, porque nunca existiu quem não sabe nada, o problema e que discurso de Amílcar tinha um contexto. Mas em todo caso, demonstra o altruísmo de Amílcar com relação a necessidade de educação para libertação como preconizava Paulo Freire. Quem leu a literatura colonial guineense, sabe que mais cedo ou tarde a independência tornaria uma realidade, isto era trivial. Por isso grande preocupação de Amílcar era pensar pós-independência, como seria a sua terra.
Sentiu-se desde muito cedo, a necessidade de que após independência o país precisaria assumir as outras roupagens- capacitação dos homens, estudar profundamente a nossa História, isto se traduz em ter consciência de nós mesmos, pois, afirmou bem cedo que a luta armada era um fator de cultura para o povo, uma espécie de “Mission to kala “de Maurice Vambe, em que se falava de regresso as origens”. Lendo o relatório da comissão africana para agenda 2063, uma agenda que a meu ver não traz muita novidade, mas, sim utopias possíveis, o problema principal que ela traz, é o facto de não descurar muito bem e profundo sobre a corrupção. Ora bem a corrupção é uma das práticas mais antiga na África, tanto como herdamos da colonização é assim como aperfeiçoamos após a libertação.
Importa realçar que Amílcar foi dos que mais defendeu a ideia de uma União africana coesa e progressiva, pois ele colocava as questões africanas acima de tudo. Com isto gostaria de reforçar a ideia que, o homem novo de que se falava nos 50 e 60 não se falhou apenas na Guine Bissau, mas em uma boa parte de África. Idealiza e critica sem reservas o seu próprio continente, ao mesmo tempo em que fazia aliados num mundo bipolar e antagônico, mas estes são fatos que será mais bem desenvolvido no livro em andamento com orientação de Doutor Ricardino Teixeira.
Mas, como seria afinal o HOMEM NOVO? Prefiro pensar que seria apenas aquele homem com o espírito e vontade de liberdade e justiça social em todos os domínios. Uma espécie de visão de crista de nascer de novo, que ele chamava de reafricanização dos espíritos. Tudo que precisamos hoje é de ser africano, isso transpassa identidade jurídica de direito natural, mas sim ter orgulho de ser africano, consciência da sua História, convição de no seu futuro e ambição fazer o que os outros não fizeram. Feito isto tudo. Aí, sim. O poeta poderia andar de mãos dadas com seu povo como dizia um dos versos de Cabral. Pois para ele a independência não se pode resumir apenas em içar a bandeira e cantar um Hino.
Espero que este mais um ano sem Amílcar nos permita não apenas lembrar-se de seu embate militar, mas principalmente de seu humanismo e ideia de bem-estar e progresso para todos e cada um.
Glória eterna a Amílcar e todos que o amam. Um abraço fraternal a Ana Maria Cabral, Iva Cabral e toda família.
Por: Tamilton Gomes Teixeira

















homeme novo a homem do povo é isso que queremos e precisamos
bom trabalho irmão, na verdade todos nos precisamos de ter a conciência de que a finalidade da luta da libertação não é somente para expulsar os colonizadores mas sim é para melhorar a situação do nosso espaço e dignificar a vida do povo que ali se encontra. No nosso seio existe varios Homens novo, mas como a hipocrisia se abalou o olhar e todo o coração dos Homens da sociedade moderna, foi por isso que só dão oportunidade para aqueles Homens novos incoerentes. O lutador benevolente é dos mais vitóriosos, procurado e honrado… A Guiné precisa disso…
Pois é tamiltom Teixeira Guiné precisa de homem novo com esperito E vontade de conduzir o país Como tinha planejado na luta armada pelo AMILCAR LÓPEZ CABRAL! Força pelo seu contributo nesse pequeno texto mas foi grande contribuição para o nosso país nesse processo de democracia!