Crônica: DEPOIS DO IMBRÓGLIO DA POLÍTICA O AMOR

Já lá vão meses em que toda a nação Bissau guineense se viu envolvida, direta ou indiretamente, com as vindas e as desavindas da política nacional. Para uns, trata-se da pior crise da recente democracia que se instaurou no país, desde 1991, quando da abertura democrática. Para outros, nos idos anos de 1994, não se via tamanho despautério da classe política, pois trata-se do período das primeiras eleições simultaneamente legislativas e presidenciais na era da democracia nacional.

Como de praxe, não me sinto “autorizado” a fazer análise de que natureza for, seja da situação sociopolítica, seja da situação económico e financeira com a penúria com que vamos tecendo nossa vida quotidiana. Mas sim pelo simples fato disto já estar a alastrar-se sem que, à vista desarmada, se veja num horizonte temporal (por mais otimistas que sejamos), um fim à vista.

A nós, entretanto, não nos interessa – como dissemos há um bocado – ater-se a análises de qualquer tipo, seja de que natureza for, pura e simplesmente, porque por mais que a tentemos fazer mais nos perdemos com toda a ciência que Deus logrou nos conceder ao longo de nossa carreira universitária. Não há como a proceder (ainda que queiramos tomar uma posição a favor sei lá do quê mesmo, ou quiçá, de quem mesmo). Pois pelo andar da carruagem em que o país ficou dividido entre o grupo do JMV e o grupo do DSP, duas bancadas – como se fossem discussões em torno da dimensão futebolística de Leonel Messi e Cristiano Ronaldo -, ficamos, por vezes, atónitos a aguardar pelo desenrolar do novo capítulo pelos episódios que se sucedem uma a outra interminavelmente.

O cronista, meu caro leitor d’O Democrata fez recurso a duas metáforas, de um lado a futebolística, de outro à novelística, afinal das contas a paixão do homem guineense é pelo futebol, e a da mulher pela novela. Só por isso (e por acaso?).

Assim, entre puxar de um lado e puxar de outro, quem ganha? Eu confesso que, pessoalmente, não sei; contudo imagino que o grande perdedor (advinha tu que lês esta crónica?)… parece-me, e como sempre, será o povo.

Costumo dizer, não sei se com razão ou se com precipitação de análise que o povo sabe o quer, mas também, às vezes, se calhar muitas das vezes, quer o que não sabe. Esta opinião não tem nada que ver com as “bancadas” supracitadas. Apenas frisei que este imbróglio político parece discussão e/ou debate de bancadas. Perdoe-me gente da bancada do JMV e do DSP, pois terá dito àquele, em campanha eleitoral, que acabaria com as bancadas, não no sentido de eliminar pessoas que se sentam nas bancadas, mas dando-lhes emprego, ocupação portanto.

No mesmo diapasão, terão proposto no programa do partido o mesmo, mais emprego, mais paz, mais estabilidade e mais desenvolvimento.

Mensagem bonita da outrora dupla imbatível.

Cá estamos nós, há quase dois anos, na guerra fratricida entre as bancadas do mesmo bairro, do mesmo solo pátrio que os criou e os educou.

A casa cai? Ou caem os homens?

Todavia, nesta segunda-feira 22 de Fevereiro, acordei-me um tanto molongo, nauseado desta mesmice de vida de Bissau, pelo cansaço de final de semana, entre namoros e curtições e algumas erudições intelectuais, sempre com meus livros por ler e por escrever, meus pensamentos a voarem a mil, por horas a fios, gastos de tantos pensares em pesares que já não sei aonde aconchegar a minha crença no devir.

Pelo sim e pelo não, oferto ao leitor, o seguinte poema que uma menina, de beiços caidamente gudos, provocou em mim, diz eu:

BEIÇOS RÓSEOS
Teus lábios cor de rosa
Fustigam meu ser
Inebriando-me de sucos que em sulcos dão socos no meu frágil estômago.
Teus beiços róseos alimentam meu ser éter
Fazendo, assim, de róseas flores
As esplêndidas cores vivas da paisagem
Em paragem no rito de passagem
Deslizando minhas mãos pela geografia humana
Das localizações do teu corpo
Tão gentil
Quanto meu comportamento vil.

Para ti escrevo com meu pénis uma lauda de novíssima aura de amor.
Exausto, ofegante, porém aliado de uma tarde de amor seminal, original, enfim, sublime
Teus mamilos roçando minhas nádegas
Com pândega de um transa teatral
Tornei-me nos teus braços angelical tão pequenino como um verme
Recém-saído de uma larva
Tão parva mas tão parva
Com o gozo magistral.

Sente
Beiços, lábios, boca chamem como queiram que a chamem
Deixem-me à beira do caminho
E deixem-me ainda com as rosas impregnadas
Dos teus lábios sutís
Para acalentarem meus desejos carnudos infantis
Vendo-te, tão putinhamente sabi,
Mas tão safadamente atraente
Ponho a te ver olhos nos olhos
Como se estes fossem óleos
Lubrificantes de náuseos sentimentos
Tão meus quanto teus.
Bissau, 22 de Janeiros 2016.

​Vejam, caros leitores, não tinha dado conta, esta crónica, escrito agora no dia 22 de Fevereiro, vai na mesma linga do poema que escrevi a 22 de Janeiro do ano em curso, quando na mesma data meu amigo e irmão Eng. Alberto Lopes, funcionário do Ecobank, ofertou-me uma lindíssima agenda e um calendário da SATGURU para o ano de 2016.

Ora bem, temo ainda que cheguemos a situação (um tanto inusitada, é claro!) em que ficamos a espera pela resposta do líder para que ponha cobro à situação do imbróglio – em que também tem uma grande quota-parte – não venha a ser o responsável maior por esta desgovernança e ele, por sua vez, fique à espera por uma reação do povo. Ou divina?

​ E que, enfim, o medo de sermos um povo desejoso de paz e de desenvolvimento a viver num país livre não nos conduza ao orgulho nefasto de tornarmos escravos de nossas ambições desmedidas o qual nos faça regredir em direção ao progresso e ao bem-estar. Direitos inalienáveis sem que, no entanto, nos demos conta disso.

​Mas voltemos para este hino de louvor ao amor, ao amor que é ao mesmo tempo tão carnal quanto espiritual. Assim sendo, retomo uma estrofe do poema acima transcrito:

Exausto, ofegante, porém aliado de uma tarde de amor seminal, original, enfim, sublime
Teus mamilos roçando minhas nádegas
Com pândega de um transa teatral
Tornei-me nos teus braços angelical tão pequenino como um verme
Recém-saído de uma larva
Tão parva mas tão parva
Com o gozo magistral.

Viva 2016, viva a cidadã guineense que acorda cedo para a olimpíada de ganha-pão e do homem guineense que, a cada dia que passa, mostra-se ainda mais otimista com o futuro do país.

 

 

Por: Jorge Otinta, ensaísta, escritor e crítico literário guineense.

1 thought on “Crônica: DEPOIS DO IMBRÓGLIO DA POLÍTICA O AMOR

  1. Primo! voce tem qualidade de ser o presi de todos guineenses. tens amor, paz, tens tudo o que e de bem para o seu povo.

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