Presidente da ANAG:”PRESENÇA DE EMPRESÁRIOS CHINESES PARA A COMPRA DE CAJÚ SERÁ UMA MAIS VALIA PARA O PAÍS E PARA OS AGRICULTORES”

O presidente da Associação Nacional dos Agricultores Guineense (ANAG), Jaime Boles Gomes, disse que se o interesse dos empresários chineses na castanha de cajú da Guiné-Bissau se concretizar este ano, será uma valia para o país e para os agricultores que há muito tempo estão a sofrer com as sucessivas quebras que se registam na campanha de comercialização da castanha de cajú. 

O camponês que dirige a ANAG assegurou que, quanto mais houver empresários ou países interessados em comprar a castanha de cajú guineense é uma porta que se abre à concorrência e à possibilidade de ver aumentado o preço do produto ao camponês.  

Jaime Boles Gomes fez estas observações na entrevista exclusiva ao semanário O Democrata para falar dos preparativos da campanha de comercialização da castanha de cajú e as perspetivas quanto ao preço base deste produto considerado o “petróleo guineense”, tendo em conta as reuniões de contactos mantidas com as autoridades. O chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, alertou numa das reuniões do Conselho de Ministros do governo de iniciativa presidencial que o executivo deve trabalhar para uma boa campanha de comercialização e exportação da castanha de cajú.  

AGRICULTORES GUINEENSES SÃO ABANDONADOS À SUA SORTE SEM NENHUMA PROTEÇÃO DO ESTADO

Afirmou que nos últimos anos, a campanha de cajú já não alegra os agricultores que deveriam sentir-se satisfeitos com a venda do produto, porque ” a sua comercialização transformou-se num período de muita tristeza, de frustração e das dores de cabeça, por causa do medo e das chatices. Os agricultores trabalham duro para vender o seu produto a um preço razoável, mas aparecem algumas pessoas que assaltam e roubam o produtor”.

Jaime Boles Gomes defendeu que o cajú é um produto precioso e estratégico da Guiné-Bissau, razão pela qual deve ser conservado e protegido pelo Estado e não abandonado. Acrescentou que o trabalho no cajú precisa de envolvimento nacional que englobe os agricultores, os intermediários, os comerciantes e a sociedade em geral, porque “acaba por refletir-se no tesouro público. Pode ajudar o governo a construir escolas, centros de saúde e estradas que vão beneficiar todos os guineenses.

O responsável dos agricultores guineenses informou que aquela classe é uma das camadas sociais muito mais frágeis e vulneráveis que necessita de uma grande conservação e proteção dos governantes da Guiné-Bissau, mas infelizmente essa situação não se tem verificado nos últimos anos.

“O apelo do chefe de Estado ao governo para trabalhar numa boa campanha de comercialização e exportação da castanha de cajú seria útil se se tornasse numa realidade, porque ajudaria os agricultores a saírem da desgraça”, indicou.

Sobre a crise económica que a Guiné-Bissau e o mundo estão a enfrentar neste momento, Jaime Boles Gomes disse que o país escapará da crise económica se tiver pessoas com habilidades.

Frisou que isso ajudaria o país a escapar-se dos riscos maiores como acontece nos outros países, acrescentando que a castanha de cajú em bruto tem 30 por cento no seu valor e 70 por cento vem do seu derivado e se os governantes guineenses desempenhassem o seu papel como outros países, a Guiné-Bissau ganharia muito com este produto estratégico nacional.

“Os governantes guineenses e o Presidente da República sabem muito bem que existem pessoas que se aproveitam deste período da comercialização da castanha de cajú para se tornarem ricas à custa dos agricultores. Os agricultores não têm proteção do Estado e são abandonados. Queremos acreditar no apelo deixado pelo chefe de Estado no sentido de o governo trabalhar seriamente neste assunto tão importante para o nosso país em termos económicos, caso contrário a população guineense passará piores momentos”, sublinhou.

Questionado sobre os prejuízos que os agricultores tiveram na campanha de comercialização da castanha de cajú no ano passado, Jaime Gomes afirmou que a safra de 2023 foi a pior campanha de comercialização da castanha de cajú na história da Guiné-Bissau, porque nenhum produtor conseguiu vender o seu produto para sustentar a sua família e muito menos pagar dívidas das pessoas que fizeram limpeza dos pomares e outros trabalhos extras que são suportados no período da campanha de cajú.

Sobre a intervenção da China no mercado guineense e no setor do cajú, Gomes disse que será uma mais-valia para o país e os agricultores em geral, porque “quanto mais número de empresários no setor mais vantagens em termos de preço e concorrência na comercialização do cajú”.

“Queremos apelar aos agricultores guineenses que mesmo com essa situação de penúria que estamos a viver na Guiné-Bissau, derivada de não proteção do Estado devemo-nos acautelar e cuidarmo-nos dos nossos pomares do incêndio, como também aconselhar as crianças nas tabancas para não brincarem com o fogo, porque pode criar estragos não só nas hortas de cajú como também nas aldeias, colocando em causa as vidas humanas”, disse.

Pediu aos camponeses a criarem tempo suficiente para a limpeza de pomares de cajú, como forma de permitir aos pomares respirarem, porque “também precisam de ar para respirar e produzir cajú em quantidade e qualidade aceitáveis”. 

“Se os pomares queimarem em quantidade, o produtor ficará dois ou três anos sem fazer colheita. Isto é uma perda enorme tendo em conta a crise económica que o mundo está a enfrentar. Devemos trabalhar nas boas práticas que passam pela secagem e conservação da castanha, permitindo aos compradores e aos empresários continuar a apostar na castanha da Guiné-Bissau, como também salvaguardar o bom nome dos agricultores”, referiu.

Jaime Boles Gomes disse que a castanha de cajú da Guiné-Bissau tem melhor sabor em relação a outros países, mas custa menos no mercado internacional, prova disso, o cajú do Benim na Índia custa 1.400 dólares por tonelada e o da Guiné-Bissau 900 dólares por causa da qualidade, devido a impurezas entre outros aspetos, de maneira que é preciso cuidarmo-nos muito da castanha de cajú no país. 

Gomes defendeu que o Estado guineense deve evitar exportar a castanha em bruto, mas começar a pensar no seu processamento localmente porque é reconhecido e pode oferecer emprego aos jovens. A sua maximização e aproveitamento da fibra, de outros derivados como o sumo, a polpa, poderá contribuir na industrialização do país como outros países rumo ao desenvolvimento almejado.

“É triste ver a sociedade guineense a não conseguir dar nenhum passo em frente em termos de desenvolvimento, mas sim regredir sempre para baixo. Os nossos governantes devem repensar todas as atividades realizadas nos últimos anos sobre este setor, procurar identificar as evoluções e passos significativos dados durante a campanha da castanha comercialização de cajú”, lamentou.

Jaime Boles Gomes defendeu que é necessário, em cada fecho da campanha de comercialização de castanha de cajú, fazer um balanço a nível do ministério do comércio, discutir abertamente sobre os estrangulamentos para saber o que foi feito de bom e como melhorar aspetos os negativos, mas “isso não se tem verificado na Guiné-Bissau”.

Por: Aguinaldo Ampa

Author: O DEMOCRATA

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