Os jovens viveiristas pedem ao governo guineense que crie projetos e iniciativas de créditos para que possam ter condições de contrair empréstimos e crescer economicamente, bem como empregar outros jovens na atividade de jardinagem.
O jornal O Democrata visitou alguns espaços de viveiristas em Bissau, nomeadamente no bairro de Penha, ao lado da embaixada da França, e o espaço pequeno Moscovo, tendo constatado que há falta de plantas e falta de movimentação de compradores.
Durante a passeata, a equipa de O Democrata recebeu informações detalhadas sobre essa atividade, mas o grande problema tem a ver com a falta de rendimento nesse setor de jardinagem, fato que leva muitas vezes os jovens que trabalham nesse ramo de empreendedorismo a abandonarem essa atividade a procura de melhores condições.
Os viveiristas interpelados pelo semanário guineense manifestaram o interesse de continuar a trabalhar na jardinagem, mas devido a vários constrangimentos que enfrentam são obrigados a deixar essa atividade e procurar outros empregos que lhes permitam criar rendimentos e sustentabilidade. Defendem que, mesmo que o Estado não queira apoiá-los diretamente com dinheiro, pode fazê-lo através de um contrato para criar jardins públicos.
“SE O ESTADO APOIASSE AS NOSSAS ATIVIDADES, MUITOS JOVENS TERIAM EMPREGO” – VIVEIRISTAS
Os viveiristas dizem acreditar que se tivessem um fundo ou apoio das autoridades nacionais poderiam recapitular os trabalhos anteriores e “com certeza as nossas plantas não estariam no estado em que se encontram e permitiria empregar muitos mais jovens que passam toda sua vida vadiar nas ruas ou sentados em casa”.
“Se tivéssemos apoios, os nossos viveiros estariam em melhores condições, permitir-nos-ia empregar outros jovens e muitos não passariam todo o tempo sentados nas bancadas ou a roubar”, disse Mandjai Sambú.
Segundo as informações avançadas por Mandjai Sambú, anteriormente os viveiristas ganhavam muitos contratos de algumas instituições de Estado, mas o espaço ocupado pelos viveiristas ao lado da embaixada da frança transformou-se quase numa mata, porque “não temos fundos para continuar a fazer o nosso trabalho de jardinagem”.
Uma das maiores dificuldades levantadas pelos jovens viveiristas no bairro de Penha tem a ver com a insuficiência de água que leva com que haja falta de plantas e, consequentemente, os clientes que habitualmente procuram o seu serviço já não o fazem com frequência porque as plantas não têm qualidade.
Mandjai Sambú confessou que o trabalho que fazem é muito difícil e que sem dedicação não se pode faturar, porque “trabalhamos mais do que ganhamos dinheiro. Não há poder e às vezes vendemos apenas três vezes num mês”.
Mandjai Sambú queixou-se da falta de água e disse que enfrentam muitas dificuldades para conseguirem água em quantidade para regar as plantas, que decidiram abandonar o espaço ao lado da embaixada da França, porque “o espaço de Pequeno Moscovo oferece melhores condições e tem água com frequência”.
O jovem viveirista revelou que o espaço onde estão atualmente a trabalhar é reservado às tropas e que estão a ocupá-lo provisoriamente.
“Na base disso é que produzimos documentos que remetemos à Câmara Municipal de Bissau e mensalmente damos a nossa contribuição”, frisou.
Mandjai Sambú afirmou que nunca receberam apoio financeiro ou material do Estado, mas moralmente são encorajados por algumas individualidades que apreciam a sua atividade como um trabalho de grande relevância.
Questionado se alguma vez receberam formação em jardinagem disse que é uma experiência que ganharam em cortar jardins de pessoas singulares para sustentar os seus estudos, daí surgiram mais ideias e abraçaram a iniciativa como uma profissão e criaram os seus próprios jardins para poderem ter mais lucro.
Recordou que não havia jardins em quantidade na Guiné-Bissau. Os interessados recorriam aos viveiros de países vizinhos, nomeadamente o Senegal e a Gâmbia, salientando que depois de abraçarem a iniciativa, conseguiram reduzir essa tendência e as pessoas começaram a acreditar na sua produção e já não vão com frequência a esses países.
Mandjai Sambú explicou que no seu jardim, tem diferentes espécies de plantas, entre as quais palmeiras, plantas de ornamentação, de vedação, limoeiros, mangueiras, papaias, pinhas, goiabas, relvados, etc.
Em termos de segurança, disse que não têm segurança, porque “pode acarretar riscos e custos aos viveiristas, uma vez que a venda não está a correr bem”.
“Se a venda corresse bem, permitiria aos viveiristas angariar algum fundo para pagar a segurança no final de cada mês”, disse, tendo lamentado que sofrem roubos de quando em vez não só de plantas, mas também de pertenças pessoais.
Mandjai Sambú pediu apoio ao Ministério da Agricultura para que possam exercer a sua atividade em condições normais e crescer economicamente, aos colegas encorajou no sentido de continuarem a encarar a profissão e a não desanimar mesmo enfrentando dificuldades.
“ÀS VEZES FATURAMOS CINQUENTA MIL F.CFA POR DIA” – JOÃOZINHO DJEDJU
Joãozinho Alfredo Djedju, um dos viveiristas da capital Bissau revelou que às vezes faturam dez mil ou cinquenta mil francos CFA por dia, mas quando as coisas não lhes correm bem, ficam três semanas sem vender nada.
Questionado se algumas instituições de Estado procuram os seus serviços, respondeu que é difícil as instituições do Estado procurarem as suas plantas, apenas pessoas singulares.
“Conseguimos as plantas através das sementeiras que as plantas deitam nos viveiros, às vezes recorremos ao Senegal para procurar outras variedades de plantas que não temos cá”, assinalou.
Disse que a espécie que mais produz na Guiné-Bissau é o “pingo de ouro”, uma espécie de planta mais utilizada nos jardins, mas também produzem diferentes tipos de mangueiras, laranjeiras, limoeiros e produzimos coconotes em grande quantidade, porque na época das chuvas é a espécie que mais se vende.
“Fazemos receitas na época das chuvas, período em que as pessoas fazem plantações, porque nessa altura conseguem água em abundância”, indicou e disse que de forma indireta recebem apoios das autoridades, porque “a Câmara Municipal de Bissau não os incomoda muito com cobranças, graças a um diálogo franco entre as partes”.
“O nosso trabalho tem mudado as vistas de algumas avenidas, mas não temos tido apoios do Estado nem das autoridades governamentais”, lamentou e afirmou que até ao momento os viveiristas não têm nenhuma ligação com o Ministério de Agricultura ou qualquer outra entidade responsável pela área.
“A única entidade que nos tem prestado alguma ajuda é a Câmara Municipal de Bissau. O Ministério da Agricultura deveria estar a apoiar a nossa atividade, uma vez que o nosso trabalho se baseia na agricultura. Fornecemos cajueiros e conseguimos criar viveiros que permitem às pessoas fazerem plantações”, afirmou.
Disse que a relação entre os viveiristas é boa e têm trabalhado em colaboração, porque o preço praticado nesse ramo é o mesmo para cada espécie de planta em todos os viveiros e que não há disparidades, lembrando que têm uma associação que aguarda a sua legalização.
“Não legalizamos a nossa organização até ao momento por falta de meios e porque há também alguns reajustes que devem ser feitos “, afirmou e disse que tem cerca de quinze funcionários, alguns são pagos diariamente e dois trabalhadores mensalmente. O valor diário estima-se em 1500 francos e mensal em 45.000 mil francos CFA.
Joãozinho Djedju afirmou que, quando a procura é maior que a oferta conseguem vender e ganhar contratos de aparar alguns jardins nas instituições ou residências privadas e num mês podem conseguir um rendimento de duzentos mil francos CFA ou mais.
“Infelizmente, a nossa despesa é maior que a receita. A nossa despesa mensal é de cento e cinquenta mil francos CFA, incluindo as refeições diárias dos trabalhadores”, revelou.
Para além da jardinagem, anunciou que pretendem executar alguns projetos no mesmo espaço como a restauração e a abertura de um contentor para vender produtos de primeira necessidade e bebidas a grosso.
Por: Carolina Djemé